Pesquisador propõe cultivo de arroz de sequeiro
2006-03-28
Após anos de trabalho com melhoramento genético de arroz, o pesquisador aposentado da Embrapa Clima Temperado, Arlei Terres, coloca todo o conhecimento adquirido ao longo desse tempo à disposição da população da Zona Sul. Terres busca parcerias de prefeituras da região para colocar em prática projeto de cultivo de arroz de sequeiro em pequenas propriedades familiares. A atividade é vista por ele como alternativa de renda às famílias de pequenos agricultores, pois pode dispensar a compra do grão comercial para o sustento da família.
Terres explica que o cultivo de arroz no seco (ou arroz de terras altas), em particular no Rio Grande do Sul, é sistema típico da agricultura de subsistência. Ele justifica que nos anos de ocorrência do fenômeno climático El Niño, que se caracteriza por chuvas acima da média normal nos meses de dezembro, janeiro e fevereiro, o cultivo de arroz sob o sistema sequeiro é favorecido e pode proporcionar boa colheita. Neste período, de dezembro a fevereiro, é quando a cultura do arroz do seco mais necessita de água, pois as plantas estão na fase de pré-floração (emborrachamento) ou pleno florescimento da lavoura. “A chuva favorece o arrozal a produzir boas colheitas do grão.”
O pesquisador destaca que em anos de El Niño, o cultivo do arroz do seco deve ser estimulado pelos órgãos técnicos e administrativos do município, porque dificilmente haverá quebra na produção do cereal. Por outro lado, nos anos de previsão de La Niña (quentes e de pouca chuva), o cultivo de arroz de sequeiro deve ser suspenso ou feito somente em áreas menores, pois não favorece bons rendimentos, ao contrário do sistema de cultivo de arroz irrigado, que reage bem ao fenômeno climático.
A proposta é, em conjunto com as prefeituras, através das secretarias de Agricultura e Desenvolvimento Rural e em cooperação com pessoas de certa vivência na cultura do arroz, desenvolver ações práticas para estabelecer pequenas áreas demonstrativas com cultivares de arroz de sequeiro, em locais estratégicos no interior de cada município. O projeto prevê ainda, assistência técnica desde a implantação da cultura até a pós-colheita, o que inclui o beneficiamento e polimento do grão. Inicialmente, ele precisaria da colaboração de quatro produtores para multiplicar as sementes, de que o pesquisador dispõe.
Multiplicação da semente
Um dos produtores dispostos a colaborar com a multiplicação das sementes é Gildoni Tavares, amigo pessoal do pesquisador. Tavares lembra que por muitos anos sua família plantou arroz de sequeiro, em pequena propriedade localizada no antigo 8º distrito de Pelotas, hoje Morro Redondo.
A família de seis pessoas cultivava um quarto de hectare com o arroz de sequeiro, o que garantia o seu sustento pelo ano inteiro. A colheita era manual e o arroz mantido durante 30 dias sobre uma lona para secagem e separação da palha. A debulha era feita com “batida de mangá”, vara utilizada para bater na espiga, e a limpeza do grão realizada em moinho de farinha adaptado para descascar arroz. Os subprodutos como a quirela eram aproveitados como alimento para os porcos e galinhas. A palha seca servia para alimentar as vacas.
Investimento viável às prefeituras
Para viabilizar o projeto, a prefeitura parceira precisa investir em engenho de beneficiamento de arroz com pequena capacidade, em torno de 150 a 260 quilos por hora de grão com casca. Terres sugere a aquisição de beneficiadora de arroz Rural ZX-3 ou Bessete III, que produzem bom rendimento de grão inteiro polido. O investimento gira em torno de R$ 4 mil.
No beneficiamento, o produtor entregaria 10% ou 20% do total de grão inteiro polido, cota que serviria à merenda escolar das escolas municipais. E ainda, os subprodutos da industrialização, como casca e farelo, seriam levados pelo produtor para uso em estábulos, por exemplo.
(Diário Popular, 27/03/06)