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2006-03-28
Não é preciso ser ambientalista para constatar as transformações ocorridas na floresta amazônica a partir da entrada da Petrobras na região, que explora o local desde meados da década de 50, em busca de petróleo e gás. Para quem chega de avião (a única via oficial de acesso existente) na chamada Província Petrolífera de Urucu, situada em pleno coração da selva tropical, é impossível não observar o contraste entre a exuberância da vegetação nativa e as ações realizadas pela empresa. Clareiras abertas no meio da mata abrigam as modernas instalações com ar-condicionado da companhia, enquanto labare-das de fogo e a fumaça escura surgem no alto da selva, oriundas das torres pertencentes à unidade industrial de processamento de gás encravada na região. Completa a poluição visual a grande quantidade de vias internas pavimentadas - ao redor de 100 quilômetros - e a presença de um posto de combustível da Petrobras Distribuidora (BR) idêntico aos vistos nas esquinas das cidades urbanas.

No entanto, desde a primeira vez em que jorrou, em escala comercial, petróleo das profundezas da mata amazônica, em 1988, a Petrobras coleciona inúmeras experiências bem-sucedidas no local - inclusive em relação à preservação da natureza. Até o momento, nunca houve acidentes graves da estatal na Amazônia e é notório o diálogo que tem tido com ambientalistas e comunidades locais. Assim, o histórico de sucesso na região, sobretudo nos últimos 20 anos, encoraja a empresa a intensificar a busca por petróleo e continuar o desafio de fazer jus ao slogan "progresso em harmonia com a natureza", bastante utilizado nas apresentações institucionais que relatam sua atuação na maior floresta do planeta.

Segundo Joelson Falcão Mendes, gerente geral da unidade de negócios de exploração e produção da bacia de Solimões (Un-BSol), está aberta uma nova temporada de caça ao petróleo na mata amazônica. As ações exploratórias ocorrerão próximo da Província de Urucu, localizada à beira do Rio Urucu, no município de Coari, a 650 quilômetros a sudoeste de Manaus, e, por enquanto, o único lugar na Amazônia de onde é possível extrair petróleo de maneira comercial - são 36 mil barris por dia, além de 10 milhões de metros cúbicos de gás natural e 1,5 mil toneladas de GLP (gás de cozinha).

"Na sétima rodada de licitação, conseguimos concessões para explorar quatro novos blocos na região, todos na bacia do rio Solimões, não muito longe da base de Urucu", afirma. Nesse mesmo leilão, realizado pela Agência Nacional do Petróleo (ANP) em outubro do ano passado, uma desconhecida empresa da Argentina, a M&S Oil, pertencente a um dono de rede de cassinos naquele país, arrematou outras 21 áreas na bacia de Solimões. Mas, segundo Mendes, esses blocos não eram de interesse da Petrobras, até agora a única empresa petrolífera com atividades dentro da floresta amazônica.

Para Mendes, é grande a chance de os técnicos da Petrobras descobrirem reservas comerciais similares aos três campos exploratórios de Urucu, de onde sai, por meio de 60 poços de 2,5 mil metros de profundidade, um produto de primeira qualidade, o chamado óleo leve, de baixo índice de enxofre, chamado informalmente pelos técnicos da estatal de "petróleo árabe", alusão ao excelente óleo produzido no Oriente Médio, exportado para o mundo todo. "Nessa atividade, somos otimistas por natureza", brinca o gerente geral da Un-BSol, que dá de ombros ao fato da taxa de sucesso de exploração de petróleo e gás na região amazônica estar em torno de 15%, enquanto que o percentual médio para as demais áreas do País é de 30%.

O petróleo de Urucu é utilizado na fabricação de derivados nobres, como querosene de aviação, gasolina e óleo diesel. A grande maioria das bacias petrolíferas exploradas no Brasil - mais de 90% - tem como característica a produção de óleo do tipo pesado, de qualidade inferior, o que obriga o País a ter de buscar o óleo leve no mercado internacional para completar o seu abastecimento. Daí a importância de descobertas de campos semelhantes aos de Urucu, o que resultaria em imediata economia de divisas ao País, que, aliás, segundo expectativas da Petrobras, alcançará ainda este ano a tão esperada auto-suficiência sustentável em petróleo.

A necessidade da Petrobras de acelerar o processo exploratório de petróleo na Amazônia, porém, deve-se também ao fato de que a produção oriunda do campo de Urucu tenha começado a entrar em declínio após 18 anos em atividade constante. "Até 2004, a extração média em Urucu era de 42 mil barris por dia, volume que caiu para 39 mil em 2005 e agora está em 36 mil barris diários", compara. O arrefecimento da produção na região acendeu um sinal de alerta na companhia, que agora não pretende medir esforços para encontrar novos reservatórios comerciais que compensem a diminuição de oferta da Província de Urucu, cujas reservas são 100 milhões de barris, que se exaurem em apenas mais 20 anos.

Outro fator que faz a estatal apressar a busca pelo óleo na região é o enorme prejuízo trazido pelo atraso na construção do gasoduto Coari-Manaus, o único meio capaz de garantir segurança no transporte do gás natural retirado dos poços de Urucu para fora da mata (ver matéria ao lado). Um eventual sucesso nessa nova fase de exploração na floresta deixaria a Petrobras menos dependente dos negócios que envolvem atividade de gás naquela região, de acordo com o gerente geral da Un-Bsol. "Até agora, a vocação da floresta amazônica tem sido mais para o gás, mas isso pode ser mudado a partir das novas descobertas de petróleo", ressalta Mendes.

Segundo José Maria Cardoso Costa, coordenador da base de Urucu e que acompanhou de perto as primeiras descobertas de petróleo comercial na floresta, a Petrobras já desembolsou, em mais de meio século de atividade na região, cerca de US$ 8 bilhões com a exploração ao redor da mata amazônicas. Tamanho investimento, porém, tem sido recompensado, pelo menos nas últimas duas décadas, pela boa qualidade do óleo encontrado na região, além do fato da Petrobras conseguir produzir o combustível amazonense a um custo bem inferior ao valor obtido com a produção em outras áreas petrolíferas, sobretudo nas plataformas marítimas. Nos cálculos de Costa, apesar dos problemas logísticos característicos da região, em Urucu é possível produzir petróleo "a um custo de US$ 4 o barril" - incluindo tributos (royalties), impostos e gastos com o transporte -, enquanto o valor médio de produção em outros campos do País gira "em torno de US$ 12".
(GM, 28/03/06)

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