Araucária resiste a fragmentação de floresta, revela análise de DNA
2006-03-28
Como ecossistema, a situação da mata de araucárias da região Sul do Brasil é indiscutivelmente calamitosa. Mas um estudo feito por uma pesquisadora brasileira na Universidade de Reading (Reino Unido) sugere que a árvore-símbolo da mata consegue manter parte de sua diversidade genética mesmo quando é isolada em bolsões de poucos indivíduos.
A agrônoma paranaense Juliana Bittencourt, 31, estudou o DNA das sementes de araucária (Araucaria angustifolia) em três situações. Na primeira, as árvores faziam parte de um grande fragmento de mata, com cerca de 4.000 hectares, numa reserva indígena. Na segunda, estavam em pequenos fragmentos, de poucas dezenas de hectares. E, na ponta mais modesta do espectro, plantas que estavam em "ilhas" de quatro ou cinco indivíduos, ou mesmo de uma árvore só.
Aliás, o que o estudo parece ter demonstrado é que esse isolamento completo pode ser ilusório. Por meio dos chamados microssatélites, regiões repetitivas das "letras" químicas do DNA que variam de forma clara de um indivíduo para outro, Bittencourt pode realizar uma bateria de "testes de paternidade" para as sementes. E descobriu que, em 75% dos casos, as árvores isoladas estavam "tendo filhos" com plantas a quilômetros de distância.
Isso é possível porque o pólen das araucárias viaja pelo vento. "Embora elas não estejam ligadas fisicamente, existe uma conectividade funcional entre elas", disse a pesquisadora à Folha. Ela chegou a flagrar casos em que o pólen cruzou cinco quilômetros.
O achado é importante porque o grande temor em relação às espécies que habitam uma paisagem retalhada é a perda de diversidade genética, já que só seriam capazes de se reproduzir dentro de um espaço exíguo, com parentes próximos. As araucárias, por enquanto, parecem estar escapando desse destino.
(Folha de S.Paulo, 27/03/06)