Ecossistemas sofrem impactos distintos
2006-03-28
A Baixada Cuiabana e o Pantanal estão sofrendo dois grandes impactos ambientais no momento, um natural e outro em função da ação humana. A instalação da Usina Hidrelétrica de Manso, em Chapada dos Guimarães, é tida como a causa de várias mudanças no Pantanal Mato-grossense e que poderá influenciar na sobrevivência da fauna e flora da região. Paralelamente, o Pantanal passou por um novo ciclo de seca, só visto na década de 60.
O primeiro fator natural diz respeito aos ciclos longos de seca e cheia. Na década de 60, o Pantanal ficou seco como muita gente ainda não viu. Só os pantaneiros mais antigos viram o fenômeno, que se repetiu em 2005, com o rio Bento Gomes, em Poconé, se transformando num deserto. O problema é que naquela época as áreas de entorno do Pantanal eram menos habitadas e não havia lixo e esgoto como nos dias de hoje. As constantes queimadas que hoje estão ocorrendo na região podem ser uma conseqüência desta seca. O controle de cheia e as oscilações de vazões provocadas pela Usina de Manso são outras grandes preocupações dos pesquisadores.
O Pantanal, como já se comprovou nos estudos realizados por vários órgãos e a UFMT, tem uma estrutura de funcionamento baseada no chamado "pulso da inundação". Ou seja, o motor dos ecossistemas pantaneiros é a inundação. Tudo é regulado por ela, como também a composição química da água. Os efeitos do controle da cheia e seca no Pantanal feito pela Usina de Manso nos últimos anos já estão sendo observados pelos pesquisadores. Este ano, por exemplo, em função de um aumento de vazão da usina para reduzir o nível do lago, várias áreas mais baixas do Pantanal alagaram antes do tempo natural de inundação. Algumas espécies de pássaros não foram depositar seus ovos nas praias do rio Cuiabá em Porto Cercado. As praias sumiram no período de reprodução.
Mas o que a grande mídia tem noticiado com certo estardalhaço e até exageros equivocados, como fez uma rede de tevê paulista, afirmando que "Cuiabá está debaixo d"água", é exatamente a possibilidade de uma grande enchente, como a de 1974. No mesmo ano, várias alterações climáticas ocorreram em todo o país. Nevou em Curitiba e em algumas cidades do Sul de Santa Catarina e outras, como Tubarão-SC, também foram vítimas da fúria das águas. Não há nada de coincidência nesses fenômenos, considerados pelos especialistas como perfeitamente naturais e previsíveis. Não é tarde lembrar que, antes da seca de 2005 e da cheia deste ano, o mestre Domingos Iglésias já alertara a população, em algumas poucas reportagens; uma delas, através de uma entrevista concedida à TV Record.
Esta semana, em visita à Usina de Manso, obtive a seguinte informação de técnicos da hidrelétrica. "Se não fosse a usina, o rio Cuiabá teria subido mais 3 metros além da marca atual e inundado várias cidades da Baixada Cuiabana".
Não bastasse tudo isso, segundo levantamento recente, pelo menos 53% de toda a área de cerrado brasileira foi desmatada, extinguindo animais e flora, erodindo os solos, assoreando e contaminando os rios, e expulsando famílias e comunidades inteiras para a periferia dos centros urbanos. E se continuar o ritmo atual de desmatamento, poderá acabar em até o ano de 2030, de acordo com a Conservação Internacional.
(A Gazeta, 27/03/06)