América Latina procura novas formas de combater catástrofes
2006-03-28
A América Latina, uma das regiões mais vulneráveis a catástrofes naturais em todo o mundo, desempenha um papel central na III Conferência Internacional de Alerta Adiantado, que começou na segunda-feira (27/03), analisando propostas para atenuar a vulnerabilidade, com recursos técnicos e humanos. Bolívia, Equador, Peru e Venezuela e seus planos de prevenção para inundações, vulcões, terremotos ou deslizamentos de terra ocuparam na segunda a abertura da Conferência.
O México e o Caribe virão em seguida, nesta terça-feira (28/03), com a agenda centrada em como enfrentar incêndios florestais e furacões. "A América Latina é uma região de grande vulnerabilidade, um grande cenário de todas as formas de desastres naturais", explicou à Efe Jan Egeland, subsecretário para Ajuda Humanitária da ONU.
A EIRD - Estratégia Internacional para a Redução de Desastres da ONU concentra seu trabalho na América Central e no Caribe, preparando um grande banco de dados para a identificação de riscos, e na região andina, com um plano semelhante. Muitas regiões da América Latina, especialmente as mais pobres, estão à mercê de catástrofes naturais, alertou Egeland.
Os maiores riscos são os de algumas cidades, segundo o representante da ONU. "Capitais como Lima, La Paz e México poderiam ser devastadas por terremotos e outros desastres", comentou. Por tudo isso, a América Latina apresenta seis dos 15 projetos escolhidos para ser expostos no plenário, do total de 150 apresentados em Bonn. "Na seleção das propostas foram levados em conta dois aspectos: a milha final e a viabilidade econômica. Isto não é um fórum de visionários", apontou Egeland.
A "milha final" é o fator determinante de um bom sistema de alarme prévio, explicou o ex-presidente dos Estados Unidos Bill Clinton, enviado da ONU para a reconstrução da área afetada pelo tsunami na Ásia, na abertura da Conferência. "Milha final" é o tempo decorrido desde a detecção de um risco até que o aviso chega "ao último pescador, à última família na beira de um vulcão", nas palavras de Egeland. "De nada adianta o melhor observatório vulcanológico se o alerta não chega à população, resumiu o equatoriano Mauro Rodríguez, coordenador da Junta de Defesa Civil da província do Tungurahua, o vulcão em atividade mais alto do mundo.
Rodríguez apresentou com o engenheiro Hugo Yepes um sistema de alarme formado por pontos de observação, sensores e dispositivos de alarme, para evacuar a população em risco, de 150 a 200 mil pessoas. "Em outros vulcões similares, como o Nevado del Ruiz, da Colômbia, dispomos de até duas horas entre o primeiro aviso e a evacuação. Nós temos apenas 45 minutos, pelas características especiais do vulcão e seus fluxos de lava sobre a encosta", disse.
Otimizar o sistema custaria menos de meio milhão de dólares, segundo sua avaliação. Outro projeto andino é o da Fundação do Risco Sísmico, de Santa Cruz de Mérida, avaliado em US$ 15 mil. O objetivo é criar um sistema de alarme contra inundações e deslizamentos de terra. Para a delegação venezuelana, o importante é, além da técnica, o "capital humano" - ou seja, uma população conscientizada e treinada para a ação rápida.
O prefeito de La Paz, Juan del Granado Cosío, apresentou um plano de alerta para uma das cidades mencionadas por Egeland como muito vulneráveis. A capital boliviana tem quase um milhão de habitantes, dos quais 300 mil expostos a um inundações ou deslizamentos. O custo de otimizar o já existente sistema de alarme prévio está avaliado em pouco mais de um milhão de euros.
A dúvida que paira sobre a Conferência é por que não existe um fundo especial da ONU para a prevenção de desastres. Em vez disso, a entidade espera a que eles aconteçam para pedir a ajuda internacional. As delegações cubana, venezuelana e argentina pediram uma mudança dessa política. "Este é o nosso objetivo: o reconhecimento autêntico da prevenção como ajuda ao desenvolvimento", embora a maioria destes projetos "devam buscar os seus próprios recursos", no setor público e no privado, disse Egeland.
(EFE, 27/03/06)
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