PRODUÇÃO DE PAPEL SEM CLORO OU EFLUENTES TÓXICOS AINDA É INVIÁVEL
2001-09-27
A fabricação industrial do papel começa na obtenção da matéria-prima. A mais utilizada no Brasil - e no Hemisfério Sul - é a celulose do eucalipto. Em geral, as indústrias têm uma área própria que garante o fornecimento da madeira, explica José Ventura, Gerente de Produção da Klabin Riocell em Guaíba (RS). Esse setor é muito importante, pois como o papel é constituído basicamente por celulose (100 toneladas de papel usam 80 de celulose), a maior parte do custo de produção está atrelado à matéria-prima. Após ser cortada em pequenos pedaços (cavacos), a madeira passa pelo cozimento, sendo transformada em uma polpa, que recebe o primeiro tratamento no processo químico de branqueamento, antes de ser levada às máquinas que dão forma ao papel. Essa primeira etapa utiliza o oxigênio (O2). É a deslignificação ou pré-branqueamento, quando se separa a lignina, substância que une as fibras de celulose e que deixa a coloração próxima ao beje. Papéis ecológicos, como o Ecograph, da Klabin Rioccel, finalizam o processo neste estágio. A produção padrão, aquela que atende a quase toda a demanda do mercado nacional e internacional, entretanto, continua o branqueamento através do cloro, seja na sua forma elementar (Cl2) ou composto com outros elementos como oxigênio (ClO2). A mistura de matéria orgânica, oxigênio e cloro resulta no final do processo em efluentes altamente tóxicos, como os organoclorados. Entre seus representantes mais perigosos estão as dioxinas, famosas por seus efeitos cumulativos e mutagênicos. São diversos tipos, com nomes complicados. Dioxina 2-3-7-8-TCDD e 2-3-7-8-TCDF são a mais malditas encontradas no processo da fabricação do papel. Para amenizar o problema ambiental, algumas empresas abandonaram o cloro elementar (Cl2), substância diretamente responsável pela geração dos mais perigosos tipos de organoclorados, e passaram a produzir papel num processo comumente chamado de ECF (Elementary Chlorine Free). Existe um método ainda mais rígido, o TCF (Total Chlorine Free), que é totalmente livre de cloro, mas pouco difundido. No mundo, pouquíssimas fábricas (da Escandinávia) fazem papel TCF. Ao invés do cloro, os agentes branqueadores utilizados são ozônio (O3), peróxido de hidrogênio (H2O2) e quelantes (enzimas). Mesmo assim, este processo não é necessariamente melhor do que o ECF do ponto de vista ambiental e, muito menos, econômico. - A qualidade da polpa é inferior e a produção de efluentes toxicológicos é equivalente, revela Rosane Borges, Gerente de Qualidade, Segurança e Meio Ambiente da Klabin Riocell, em Guaíba. Na verdade, a técnica TCF não produz organoclorados, mas gera efluentes de compostos orgânicos, fenólicos e enzimáticos. A vantagem do TCF é o fechamento do ciclo, isto é, o reaproveitamento dos produtos utilizados no processo de fabricação. Em contrapartida, o ECF consome menos energia elétrica.