Alertados sobre uma manifestação de ONGs a favor do fim das carroças na cidade, ontem, carroceiros e catadores se deslocaram ao local para defender sua permanência no processo de recolhimento do lixo doméstico. O grupo de cerca de 150 recicladores se concentrou de um lado do Paço Municipal, horas antes da chegada de 40 ativistas, que ficaram isolados do outro lado por PMs, guardas municipais e cordas de contenção. Houve troca de provocações.

Ativistas a favor dos animais apóiam o projeto do vereador Sebastião Melo, que prevê a retirada gradativa de carroças das ruas em até oito anos. Em caso de aprovação, o Programa de Redução Gradativa do Número de Veículos de Tração Animal deve criar alternativas para os carroceiros. O vereador Adeli Sell, que participou do ato, propôs emenda para reduzir o prazo de retirada para quatro anos. Defende que a coleta seja feita pelo DMLU, que levaria os resíduos aos galpões de reciclagem onde os catadores fariam a separação.

Com o fim da circulação, Sell garante que a fonte de renda será mantida. "Não sou contra os catadores, mas não podemos conceber que Porto Alegre tenha coleta do lixo medieval." Os catadores fariam treinamento para atuar nos galpões existentes e nos cinco que seriam construídos. O vereador foi o principal alvo do protesto dos carroceiros, que não levaram as carroças para não atrapalhar o trânsito.

Segundo o coordenador estadual de formação do Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis, Cristiano Oliveira, "estão preparando o terreno para a privatização da reciclagem". Defendeu debate para que as famílias que vivem da reciclagem não percam seu sustento.

A ativista Leonor Klüber, da ONG Sempre Amigo, Amigo Bicho, avaliou como "inconcebível que as carroças atrapalhem o trânsito e sejam algumas vezes conduzidas por crianças e que os cavalos sofram maus-tratos". O ato se encerrou quando os secretários da Coordenação Política e Governança Local, Cézar Busatto, e do Meio Ambiente, Beto Moesch, apareceram e prometeram estudar o assunto.
(CP, 28/03/06)