Mega-projetos para geração de energia ameaçam sociobiodiversidade
2006-03-28
A retomada dos grandes empreendimentos na geração de energia no Brasil foi tema
de debate na Tenda do Fórum Global da Sociedade Civil, na sexta-feira (24/03),
no painel "Afogando a sociobiodiversidade na produção de energia: para quê? Para
quem?". "Não se falava de mega empreendimentos hidrelétricos, assim, desde a
ditadura", declarou a respresentante do Núcleo Amigos da Terra/Brasil e
coordenadora do Grupo de Trabalho Energia do Fórum Brasileiro de ONGs e
Movimentos Sociais para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (FBOMS), Lúcia
Ortiz, referindo-se, principalmente, aos megaprojetos de energia na Amazônia.
Ela ressaltou, no início do evento, a importância das atividades paralelas
promovidas pelo FBOMS, "além de ser uma forma de monitorar as negociações da
Oitava Conferência das Partes da Convenção de Diversidade Biológica, cumpre o
papel de alertar as sociedade civil para o que está acontecendo no mundo real".
Rio Uruguai – Os danos à fauna, à flora e às comunidades que vivem nas
regiões das barragens foram apresentados pelo professor da Universidade Federal
do Rio Grande do Sul, Paulo Brack. Para ele, esta retomada de projetos está
sendo justificada por um possível apagão, porém segundo afirmou, o problema está
no modelo de produção e consumo. "A demanda energética cresce 5% ao ano sendo
que 48% da energia produzida é para abastecer as empresas privadas", destacou.
Ele também lembrou do caso da Usina Hidrelétrica de Barra Grande, localizada no
Rio Uruguai, cujo Estudo de Impacto Ambiental (EIA) - procedimento necessário
que garante uma análise do local onde se pretende instalar o emprendimento -
escondeu a existência de uma das últimas áreas primárias de araucárias do Brasil.
"Este lamentável episódio serviu para mostrar o quanto é nebuloso os resultados
destes estudos", afirmou Brack explicando que a contratação do estudo é de
responsabilidade das empresas. "Dados importantes, como espécies ameaçadas,
podem ser omitidos para facilitar a aprovação do licenciamento", ressaltou.
Movimento dos Atingidos por Barragens – O representante do Movimento dos
Atingidos por Barragens, Helio Mecca, disse que "o nosso está sendo entregue
meia dúzia de pessoas ", afirmou indignado. Conforme Mecca a energia foi
privatizada para o capital estrangeiro, "não há obra alguma de domínio público",
afirmou. Denunciou que 70% da população atingida por barragens não recebem
indenização, "o Estado garante a construção do empreendimento mas não garante o
direito do cidadão", afirmou referindo-se ao processo de licenciamento.
Diga não as Barragens no Rio Madeira – O projeto brasileiro de construir
barragens em dois rios da bacia Amazônica para gerar energia ameaça um
formidável acervo de animais e plantas na região de maior biodiversidade do
mundo. Estes empreendimentos poderão transformar radicalmente os rios e os povos
amazônicos", explicou o representante do Fórum de Debates sobre Energia de
Rondônia, Artur Moret.
No total, são 304 barragens planejadas para a Amazônia, 46 já existentes e 258
inventariadas nas bacias fluviais. Para ele as barragens estão conectadas a um
modelo econômico concentrador direcionado para a exportação.
Rio Tibagi – "Queremos que a comunidade tenha poder de veto quando
consultada na audiência pública no processo de licenciamento", declarou o
representante da Liga Ambiental do Paraná, Rafael Filipini, após a apresentação
de um vídeo que mostrou ser a decisão de um empreendimento meramente política,
assim, não levando em conta os impactos socioambientais. Segundo ele, os
projetos hidrelétricos no rio Tibagi, localizado no estado do Paraná, são
omissos na descrição desses impactos, de modo a ocultar suas reais conseqüências
sobre a natureza e as populações humanas impactadas. "Para fazer valer esses
estudos, os emprenteiros contam com a omissão do poder público e com a
intimidação das populações locais", explicou.
Ele criticou a posição do Governo do Paraná que se intitula "green" (verde) e
posiciona-se contra os transgênicos, porém, para os empreendimentos no Rio
Tibagi faz "vista grossa". "O governo faz marketing promovendo-se como estado
livre de transgênicos, mas não consegue ver a totalidade do que representa o
meio ambiente", enfatizou referindo-se aos cartazes e camisetas que podem ser
vistos por quem circula na Expotrade. Como ato de protesto, Filipini pediu
licença aos participantes para retirar o cartaz exposto contra os transgênicos
que trazia a logomarca do governo.
O Fórum Global da Sociedade Civil, evento paralelo aberto ao público organizado
pelo FBOMS, acontece durante o mesmo período da MOP3/COP8.
(Assessoria de
comunicação do FBOMS/Fórum Global da Sociedade Civil, 25/03/06)
http://www.ecoagencia.com.br/index.php?option=content&task=view&id=1490&Itemid=2