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2006-03-27
A conservação de 60% das espécies de plantas ameaçadas em coleções ex situ*, meta da Convenção sobre Diversidade Biológica, vai ser o grande desafio para os botânicos brasileiros até 2010. A questão veio à tona na tarde de sábado na 8ª Conferência das Partes da Convenção sobre Diversidade Biológica (COP8).Durante cerca de duas horas, botânicos de várias partes do país discutiram e apresentaram soluções para a conservação da flora brasileira.

“Isto é um problema porque faltam espaços para conservar estas espécies. Temos apenas 30 jardins botânicos hoje no Brasil”, explicou o botânico Cláudio Nicoletti de Fraga, do Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Na opinião dele, há dois caminhos para a flora brasileira. “Trabalhar na conservação in situ** e na conservação de plantas vivas ex situ”, afirmou Nicoletti.

Para Maria Regina Barbosa, da Sociedade Botânica do Brasil, o desenvolvimento de estratégias regionais a partir de uma política nacional é fundamental para a conservação da flora brasileira. “O caminho é trabalhar em redes que já funcionam no país. Como por exemplo, com as redes dos jardins botânicos; ou então com a rede de coleções biológicas, lançada aqui na COP8. Há ainda as redes de inventários florísticos. A do semi-árido e da Amazônia já estão consolidadas e funcionando”, sugeriu Maria Regina.

Já o diretor da Organização Não-Governamental (ONG) SOS Mata Atlântica, Mário Mantovani, mostrou preocupação com o avanço do agrobusiness no Brasil e cobrou o investimento de mais recursos para o desenvolvimento de ações para a conservação da flora brasileira. “O tema da agrobiodiversidade é muito importante neste trabalho de conservação”, comentou Mantovani.

O diretor da ONG também disse ser um problema o fato da Floresta de Araucárias no Paraná estar fora do bioma Mata Atlântica. “Foi uma forma que os ruralistas encontraram para continuar acabando com as Araucárias no Paraná. Precisamos mudar esta situação”, disse. A engenheira florestal do Instituto Ambiental do Paraná (IAP), Mariese Muchailh, também presente no evento, reconheceu que a situação da Floresta de Araucárias é crítica mas garantiu que o governo paranaense está desenvolvendo ações para preservá-la.

Mariese criticou as consultas públicas para a criação de unidades de conservação. “No Paraná, a sociedade não está preparada para entrar neste debate. Um exemplo é a polêmica em torno da Estrada do Colono, no Parque Nacional do Iguaçu. Acho que foi um erro colocar a consulta pública neste momento”, justificou. Além disso, a engenheira florestal também afirmou que faltam funcionários e capacitação técnica no IAP para gerir as unidades de conservação.

Jardins botânicos florescem nos países em desenvolvimento
Nos últimos 20 anos, os países em desenvolvimento passaram a abrigar um número crescente de jardins botânicos. No período, a China, por exemplo, saltou para 140 instituições destinadas a conservar e divulgar a biodiversidade de plantas e fungos. Na Argentina, a quantidade desses espaços mais do que dobrou. Eram 16 na década de 1980 e agora somam 37. Entretanto, no Brasil, País megadiverso que abriga a maior variedade de espécies em todo o planeta, existem, entre instituições públicas e privadas, apenas 32 jardins botânicos.

“Eles deveriam ser muito mais”, diz Sara Oldfield, da Botanic Gardens Conservation International – BGCI, uma rede que congrega cerca de 2500 entidades desse tipo em 153 países. Se levarmos em conta a acelerada perda de biodiversidade enfrentada pelos chamados países megadiversos, quase todos no grupo dos países mais pobres do planeta, situados, na maioria, no Hemisfério Sul., e se o papel dos jardins botânicos é conservar, pesquisar e divulgar a flora, seria justo termos mais desses bancos genéticos com amostras significativas dos biomas e ecossistemas.

Apesar de sua importância estratégica – e de ter nada menos do que dez artigos que tratam desse assunto no âmbito da Convenção da Diversidade Biológica (CDB) há pouquíssimo dinheiro público para os jardins botânicos na América Latina. Um dos eventos paralelos da 8ª Conferência das Partes da CDB em Curitiba tratou justamente de discutir os meios de implementação de uma estratégia global de conservação de plantas por meio do incremento aos jardins botânicos nos países latino-americanos.

O banco inglês HSBC é um dos poucos órgãos privados a destinar recursos específicos para esse fim. Por meio da rede liderada por Sara Oldfield o banco liberou cerca de 50 milhões de dólares para serem aplicados durante cinco anos em jardins botânicos credenciados pela Botanic Gardens Conservation International.

A rede ajuda a priorizar os recursos por meio de critérios que incluem o nível de interação dos jardins botânicos com as comunidades vizinhas, as pesquisas científicas desenvolvidas e a importância do acervo.A tendência é priorizar aqueles se integram às comunidades vizinhas e que abrigam amostras importantes de ecossitemas. Projetos de educação ambiental também contam pontos no conceito da BGCI.

Entre os países com o mais conceituados jardins botânicos na América Latina, Sara Oldfield destaca os de Cuba, Colômbia, Argentina e Brasil. Porém, os melhores situados em termos de acervo, investimentos e visitação encontram-se bem acima da linha do Equador.
Por Eduardo Nunes e Jaime Gesisky, Assessoria de Imprensa COP8/MOP3
Notas:
*Condição ex situ é a manutenção de amostra de componente do patrimônio genético fora de seu habitat natural, em coleções vivas ou mortas.
**Condição in situ é aquela onde uma determinada espécie está em seu habitat natural.

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