Problemas com mexilhões são rotineiros em arroio de Canoas
2006-03-27
A proliferação de mexilhões dourados continua a atrapalhar a captação de água
no Arroio das Garças, em Canoas. Na manhã de sábado, 18, a Companhia
Riograndense de Saneamento (Corsan) retirou das bombas de captação e da
tubulação de entrada cerca de 200 quilos do molusco. O diretor de Operações da
empresa, Jorge Accorsi, explica que o procedimento vem sendo realizado a cada
seis meses desde que o problema com esses animais se intensificou, no verão de
2004. O engenheiro canadense John Levie, que esteve no Estado fazendo palestras
sobre o assunto, acompanhou o trabalho.
Esses problemas com o mexilhão dourado devem continuar. O doutorando em Recursos
Hídricos pela UFRGS Daniel Pereira revela que a espécie já se transformou numa
praga. Ele faz parte da equipe da pesquisadora da PUCRS Maria Cristina Mansur,
que pela primeira vez detectou o molusco no Rio Guaíba, em 1999, e vem se
dedicando ao estudo do animal, formas de controle e os efeitos de sua presença
na região.
SEM PREDADORES - De acordo com Pereira, a principal hipótese é de que o animal
foi trazido da Ásia através de embarcações que por aqui despejam suas águas de
lastro, utilizadas para dar estabilidade aos navios quando tem pouca carga ou
estão descarregados. “Por ser estranho nesse ecossistema e não ter evoluído com
as outras espécies daqui, o mexilhão não encontra predadores e se reproduz de
forma descontrolada”, explica Pereira.
O molusco pode medir em geral de um a três centímetros e não serve para
alimentação humana. Para sobreviver, eles procuram se fixar em qualquer
superfície sólida e se alimentam pela filtragem de microrganismos e algas
presentes na água. A aglomeração causa a formação de blocos espessos que podem
interferir no fluxo de captação de água, se infiltrar em plantas industriais e
até atrapalhar a irrigação de lavouras. Além de afetar instalações como essas,
o mexilhão tem causado um desequilíbrio no ambiente natural. “A paisagem dos
juncais, em geral nas margens do Guaíba, está diminuindo por causa dos
mexilhões”, exemplifica Pereira.
Para contornar os problemas com a praga, Pereira ressalta que “não existem
soluções mágicas, prontas e únicas. Qualquer ação depende de muitas pesquisas e
se concentra num setor específico.” No grupo de estudos em que participa, estão
sendo estudadas formas de controle mexilhão dourado através do uso de
substâncias químicas na água, além do monitoramento da espécie dentro do Rio
Guaíba. Ações de prevenção contra a proliferação do molusco também deveriam ser
promovidas, pois ele tem se espalhado pelos rios do Estado através dos cascos
das embarcações.
(Diário de Canoas, 24/03/06)