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2006-03-27
A perda de terras com vegetação e áreas cultiváveis ocorre em velocidade duas vezes maior do que a verificada na década de 70, conforme os dados da ONU apresentados ontem em evento paralelo à 8ª Conferência das Partes da Convenção sobre Diversidade Biológica (COP8).

No Brasil, têm sido identificados processos de degradação das terras em estados como o Rio Grande do Sul (especialmente na região de Alegrete), Paraná, São Paulo e Rondônia. Mas, as áreas susceptíveis à grave degradação dos solos, dos recursos hídricos, da vegetação e a redução da qualidade de vida das populações afetadas não se limitam às regiões semi-árida ou sub-úmida seca, onde o risco é bem maior. São áreas localizadas em sua grande maioria na região Nordeste e no norte de Minas Gerais, totalizando cerca de 980 mil quilômetros quadrados.

Segundo a ONU, os prejuízos causados pela desertificação chegam a US$ 250 por hectare em áreas irrigadas, US$ 40 por hectare em áreas de agricultura de sequeiro e US$ 7,00 por hectare em áreas de pastagem. De acordo com diagnóstico do Ministério do Meio Ambiente (MMA), as perdas podem chegar a US$ 800 milhões por ano. Os custos de recuperação das áreas mais afetadas foram estimados em US$ 2 bilhões para um período de 20 anos.

A agricultura predatória, as queimadas, os mananciais sobrecarregados e as explosões demográficas estão entre as principais causas da desertificação, com o auxílio dos crescentes efeitos do aquecimento global – ressecando ainda mais os solos afetados. O processo provoca três tipos de impactos, relacionados entre si : ambientais, sociais e econômicos.

As regiões mais afetadas do planeta estão localizadas em grande parte da Europa e Ásia, Canadá, Oeste e Sul da África e o Leste da Austrália. O aumento das temperaturas globais poderá ser a principal causa, dizem os especialistas. Na China, uma área do tamanho de Portugal (cerca de 92 mil quilômetros quadrados) transformada em deserto. Pelo menos 31% do território espanhol estão em processo de desertificação.

Caatinga brasileira - A situação é preocupante nas regiões da Caatinga e do Cerrado. “Existe uma pressão muito grande sobre os recursos naturais, principalmente, em ambientes sub-úmidos e semi-áridos, como é o caso da Caatinga e do Cerrado. O aumento da população ao longo do tempo gerou um avanço da desertificação”, diz o engenheiro florestal Francisco Campelo, coordenador regional do projeto Conservação e Uso Sustentável da Caatinga, do MMA.

Único bioma exclusivamente brasileiro, a Caatinga ganhou projeto próprio em 2004., que recebeu US$ 4 milhões para a primeira fase, com duração de quatro anos. “É uma ação que visa a demonstrar a viabilidade de práticas de uso sustentável na conservação da biodiversidade. É viável levar a experiência de que se trabalhou a Caatinga do ponto de vista da associação com os sistemas agrícola e de pecuária, do manejo com fins florestais, para ser repetida em outras situações, outros lugares do mundo”, avalia Campelo. A execução é descentralizada em 14 locais. “Temos experiências de agricultura familiar que demonstram que os recursos são os instrumentos para o planejamento da produção das famílias”, completa Campelo.

Cerrado - De acordo com o assessor da Secretaria de Biodiversidade e Florestas do Ministério do Meio Ambiente, o sociólogo Mauro Pires, o programa Cerrado Sustentável deve evoluir para uma política pública. “É o primeiro programa de bioma de Savana do mundo”, revela.

Segundo Pires, o Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF) vai destinar cerca de US$ 13 milhões ao programa. “Ainda este ano o recurso estará disponível para criação de unidades de conservação e apoio a projetos de uso sustentável”, informa. A expectativa é envolver os grandes proprietários de terras nas regiões de Cerrado numa parceria. “Eles também têm interesse na preservação do meio ambiente”.

O Cerrado ocupa uma área de 200 milhões de hectares, cerca de 20% do território nacional. Abrange 12 estados (Bahia, Tocantins, Piauí, Maranhão, Pará, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Rondônia, São Paulo, Paraná e Minas Gerais) e responde por 5% da biodiversidade do mundo, com 12 mil espécies em sua flora, que foi bastante degrado nos últimos 30 anos.
Por Eduardo Nunes, Assessoria de Imprensa COP8/MOP3

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