Empresas devem ir além dos estudos sócio-ambientais
2006-03-27
Qual o valor real da biodiversidade e dos efeitos causados a ela pelas empresas?
Nos anos 70, bem poucas empresas se incomodavam com essa questão; nos 80 as
empresas começaram a pagar pelo impacto que causavam ao meio ambiente; e nos
anos 90 simplesmente adicionaram esse pagamento aos custos de seus produtos,
situação que de certa maneira perdura até hoje.
Colocou-se algum valor na biodiversidade, é verdade, mas nem sempre é o que ela
realmente vale e está na hora de dar um passo mais à frente. A proposta é da
filial brasileira de uma das maiores organizações ambientais do planeta, o
WWF-Brasil, que nos próximos dias vai divulgar um estudo na 8 Conferência das
Partes da Convenção da Diversidade Biológica (COP8), que está sendo promovida
em Curitiba com o título "Integração com o Setor Privado".
Hoje as empresas sofrem pressões dos acionistas, de ONGs, do Banco Mundial e da
mídia e, segundo o coordenador de Políticas Públicas do WWF-Brasil, Mauro
Capóssoli Armelin, as empresas devem ir mais além dos estudos sócio-ambientais
convencionais obrigatórios, como o EIA e o RIMA. "É preciso que a biodiversidade
entre na área de avaliação do risco empresarial e se torne parte da visão
estratégica. Todo e qualquer empreendimento deve ter essa ferramenta. Não é uma
questão de simplesmente pagar pelo dano causado e, sim, de minimizar ao máximo
esse dano e aí as empresas precisam estar bem preparadas", disse Armelin à GM.
Um dos pontos de maior preocupação do WWF-Brasil é o que a entidade denomina de
necessidade de planejamento para os mecanismos de compensação da biodiversidade.
Obrigatórios no país desde 2000, para os empreendimentos que causam
significativa degradação ambiental, a compensação prevê a destinação de recursos
das empresas envolvidas para a manutenção ou criação de novas unidades de
conservação. "O que nós desejamos é que esse mecanismo não se torne uma simples
troca. Tal como eu vou degradar o ambiente e então pago por isso investindo
numa área de preservação . O que é preciso é que a empresa se preocupe em
degradar menos e não apenas pagar por isso", explicou Armelin. Recentemente, o
Ministério do Meio Ambiente anunciou a criação do Fundo Nacional de Compensação
Ambiental, a ser gerenciado pelo Ibama, e ele deverá ter até R$ 300 milhões por
ano só para se ter uma idéia do volume de contribuições das empresas que
degradam o meio ambiente no Brasil.
Mas esta preocupação já chegou ao Brasil e, na quarta-feira passada, empresários
locais se reuniram com Nicholas Bertrand, coordenador do Programa de Negócios
e Biodiversidade da CDB, para discutir a participação da indústria nas decisões
da conferência sobre biodiversidade e os mecanismos para sua implantação.
(GM, 27/03/06)