Proteção da fauna e flora melhora a vida de comunidades, afirma WWF
2006-03-27
O resgate de pandas, gorilas ou tigres, freqüentemente considerado banal diante dos grandes problemas da humanidade, ajuda a reduzir a pobreza e melhorar a vida das comunidades, afirma a organização não-governamental ambientalista WWF (Fundo Mundial para a Natureza). Um estudo da WWF assegura que a proteção de animais e vegetais em risco de extinção incentiva o desenvolvimento sustentável em áreas rurais de países como China, Costa Rica, Índia, Namíbia, Nepal e Uganda. “Todas as espécies são importantes para os seres humanos como símbolos culturais e religiosos, mercadorias, alimentos, tecidos e transporte”, disse a diretora do programa global de espécies da WWF, Susan Lieberman. “Todas as espécies desempenham um papel vital ao assegurar certos tipos de serviços que dependem da qualidade do meio ambiente, como a limpeza da água e a fertilidade do solo”, afirmou.
Os autores do documento argumentam que em muitas partes do mundo as dinâmicas que ameaçam a vida selvagem e a natureza também contribuem para agravar o problema. Por exemplo, as terras baixas de Terais, no Nepal; as terras alagadas de Caprivi, na Namíbia, e as florestas de Afromontane, em Uganda, são territórios ameaçados pela perda de seu habitat e pelo esgotamento de sua diversidade biológica, devido ao acesso desigual aos recursos naturais necessários para a vida e pela carência de mecanismos de administração adequada. O informe de 80 páginas diz que o moderno conceito de conservação das espécies aponta para preservar e administrar a diversidade biológica em benefício das espécies selvagens e das pessoas.
A WWF critica a separação entre esses dois aspectos na assistência ao desenvolvimento e pede maior consciência pública sobre a interdependência da natureza, os ecossistemas e os esforços para combater a pobreza. “A conservação e a administração da biodiversidade seguem à margem dos planos de desenvolvimento e financiamento”, diz o relatório. “Isto é particularmente certo no tocante à conservação de espécies, que foi erroneamente considerada marginal entre as prioridades do público e seu desenvolvimento. Mas a preservação de espécies contribui com a redução da pobreza e a melhoria dos meios de subsistência”, acrescenta o informe.
Em 2000, os 189 Estados-membros da Organização das Nações Unidas adotaram os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, entre os quais a redução pela metade do número de pobres até 2015. A sustentabilidade ambiental também figura nesses objetivos. Também o Convênio sobre a Diversidade Biológica da ONU, cuja conferência das partes acontece em Curitiba (PR), persegue para 2010 a meta internacional de conseguir uma “significativa” redução da perda de biodiversidade da Terra. Entretanto, a WWF afirma que na prática não é assim. Enquanto se gasta milhares de milhões de dólares para reduzir a pobreza e promover o desenvolvimento econômico, não se cuida do vínculo entre desenvolvimento e saúde do meio ambiente.
O documento pede maior apoio para um novo tipo de financiamento dirigido ao cuidado das espécies em perigo, cuja preservação tem papel central na agenda de Desenvolvimento, especialmente em áreas de grande biodiversidade. O informe pede urgência aos organismos governamentais e internacionais no sentido de forjar alianças entre agências de fomento do desenvolvimento e organizações da sociedade civil, especialmente as que trabalham com comunidades que possuem flora e fauna raras. O objetivo é facilitar a distribuição dos esforços contra a pobreza e pela conservação. O documento analisa o caso de espécies ameaçadas, como os tigres do Nepal, os gorilas em Uganda, o panda gigante na China, a tartaruga marinha na Costa Rica e os golfinhos de rio na Índia.
O estudo da WWF explica como as comunidades rurais pobres se beneficiam com emprego, participação social, geração de renda e aceso à carne graças aos atuais programas de conservação. No Nepal, um programa de conservação do tigre proporciona aos moradores locais e agricultores a possibilidade de aproveitar seus recursos florestais ao conseguirem lenha, outros produtos da floresta, forragem e renda com a venda de madeira. O turismo ecológico permite às comunidades locais da China, Costa Rica, Namíbia e Uganda obter alguma renda. Calcula-se que o turismo atraído pelas tartarugas tenha representado em 2002 uma renda para a Costa Rica de US$ 6,7 milhões, procedentes principalmente de serviços de hospedagem e transporte, bem como a venda de lembranças, de entradas para os parques naturais e taxas para os guias.
Na Namíbia, os projetos de conservação custearam infra-estrutura rural, especialmente pequenos sistemas de irrigação, caminhos e trilhas secundárias, centros de saúde, escolas e projetos para obter água potável. A pesquisa mostra melhoras significativas na conservação e administração de recursos naturais nos países onde são realizados tais projetos. Em Tortuguera, na Costa Rica, o aninhamento da tartaruga verde aumentou cerca de 417% entre 1971 e 2003. Em Uganda, a única população de gorilas existente atualmente cresce lentamente graças aos intensos esforços de proteção. A população atual registrada nos dois parques nacionais de Windi e Mgahinga conta com cerca de 700 animais. Já no Nepal, a quantidade de tigres e rinocerontes passou de 100, em 1960, para 460, segundo a WWF.
(Envolverde, 24/03/06)
http://www.envolverde.com.br/materia.php?cod=15303&edt=34