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2006-03-27
A observação da vida selvagem está rapidamente se tornando uma atividade multi-milionária, senão multi-bilionária, com potencial para combater a pobreza através do estímulo a uma fonte de renda vital à comunidades locais e a iniciativas de conservação.

A descoberta foi publicada por um novo relatório lançado ontem (26)na reunião da Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB), realizada em Curitiba, Brasil.

Segundo Robert Hepworth, Secretário Executivo da Convenção sobre Espécies Migratórias e Animais Selvagens do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA/CMS), que coordenou o preparo do relatório, o estudo demonstra que muitos animais selvagens valem mais “vivos do que mortos”.

“É evidente que a observação cautelosa e bem gerenciada de baleias, golfinhos, gorilas e pássaros pode gerar mais benefícios econômicos reais e duradouros quando comparados à renda de curto prazo advinda da caça com fins alimentícios, industriais e comerciais”, acrescenta.

Observadores de baleias, por exemplo, gastam mais de um bilhão de dólares por ano nessa atividade, beneficiando aproximandamente quinhentas comunidades ao redor do mundo, diz o relatório Observação da Vida Selvagem e Turismo.

“De fato o relatório vai além, demonstrando que um número muito maior de espécies está atraindo turistas e observadores, desde morcegos e borboletas, nos Estados Unidos, até arraias, nas Ilhas Cayman”, afirma.

O relatório, produzido em parceria com o grupo de turismo TUI, foca-se em doze estudos de caso a fim de destacar a crescente importância econômica de atividades de observação da vida selvagem, identificando possíveis problemas decorrentes da administração inadequada desta atividade.

Visitantes podem provocar mudanças no comportamento e na estrutura psicológica dos animais, resultando em elevada concentração de hormônios de stress na corrente sangüínea e em menos tempo dedicado à alimentação e ao descanso.

Da mesma maneira, a visitação excessiva pode prejudicar ou danificar habitats, tais como os recifes de corais e ninhos de tartarugas.

Alguns pássaros são altamente sensíveis ao barulho, flashes fotográficos e a roupas de cores fortes. Vagalumes reduzem a intensidade de sua iluminação – usada para atrair insetos – se expostos à luzes de lanternas usadas para guiar os turistas.

O relatório faz uma série de recomendações concretas sobre como melhor promover observações da vida selvagem em termos ambientais, econômicos e sociais, incluindo conselhos e orientações a visitantes, condutores e mergulhadores.

Esquemas de zoneamento, delimitação de áreas de administração, programas de estabelecimento de taxas de visitação se propõem a regular as atividades em uma escala mais ampla.

Paola Deda, coordenadora da iniciativa de observação de espécies selvagens da CMS diz: “O slogan Olhe - Não toque resume os conselhos advindos dessa pesquisa. Os turistas precisam respeitar certas regras básicas. Isso inclui desde não ter nenhum tipo de contato físico com os animais, salvaguardar distâncias de segurança e não realizar visitas em caso de doença, até evitar a remoção de ninhos e o uso de flashes fotográficos. Tudo isso deve ainda ser acompanhado por um planejamento cuidadoso por parte dos responsáveis locais e das autoridades nacionais”.

Alguns Estudos de Caso da CMS
Brasil - O Centro de Visitação das Tartarugas Marítimas da Praia do Forte, parte de uma rede de centros dentro do escopo do Projeto Tartaruga Marinha (TAMAR), recebe meio milhão de visitantes por ano. Em 2003, esse projeto gerou uma renda líquida de aproximadamente 500 milhões de dólares – equivalente a cerca de 17 por cento do orçamento anual de todo o Projeto Tamar, em torno de 3 milhões de dólares.

Alemanha - A observação de grous se tornou um passatempo popular no Parque Nacional de Muritza ao longo da última década. Atualmente, o parque gera mais de 13 milhões de Euros, partindo de zero em 1990, dando origem a 630 postos de trabalho de tempo integral.

O valor indireto do parque e de sua vida selvagem são consideravelmente maiores visto que sua localização e a presença desses pássaros migrantes estimula o turismo na região durante períodos de baixa estação.

Tanzânia - Estimadamente 150 mil pessoas visitam o Parque Nacional de Serengeti anualmente para conhecer a sua famosa vida selvagem. Com base nos dados de 2003, o parque gera uma renda de 5,5 milhões de dólares, oriundos de visitações turísticas.

Estados Unidos - A ponte da Avenida do Congresso em Austin, Texas, é asilo para 1,5 milhões de morcegos mexicanos que se reúnem no local à noite para se alimentar. O espetáculo atrai entre 200 a 1.500 pessoas diariamente.

O valor econômico resultante é o aumento em mais de duas vezes das despesas diárias dos visitantes, chegando a mais de 3 milhões de dólares gastos em refeições, acomodação e transporte.

Isso sem considerar os benefícios proporcionados aos fazendeiros locais e outros pelas 14 toneladas de insetos consumidos pelos morcegos a cada noite de verão!!

Entre outros rendimentos identificados pelos casos de estudo, estão:

Observação de pequenos pingüins no Phillip Island Nature Park – taxas de entrada recolhem em torno de 6 milhões de dólares australianos por ano, somados a outros 2,5 milhões gerados pela venda de lembranças, comidas e bebidas.

Observação de gorillas em Uganda – em torno de 8 mil visitantes por ano pagam aproximadamente 350 dólares pelas licenças.

Observação do tubarão-baleia em Seychelles – 35 mil dólares advindos de renda direta, dos quais 20,5 mil são destinados ao Programa de Conservação de Tubarões-baleia da Sociedade de Conservação Marinha e 1,75 milhão de dólares de renda indireta proveniente dos gastos dos visitantes.

O Grupo TUI desenvolve estratégias de apoio à conservação de várias espécies, tais como baleias e golfinhos, através do turismo em Tenerife e La Gomera, Ilhas Canárias e na Baía de Samana, na República Dominicana.

“Operações turísticas internacionais podem contribuir para o aprimoramento do desempenho e do apoio de estratégias de conservação”, afirma Dr. Michael Iwand, Diretor-Executivo do setor de Administração Corporativa Ambiental da TUI.

“A saúde dos ecossistemas e espécies está totalmente ligada ao setor de negócios turísticos, já que os animais são normalmente uma das principais atrações de locais turísticos. Isso significa, no entanto, que é necessário compreender, de maneira aprofundada, os efeitos do turismo sobre a vida selvagem de forma a garantir melhores estratégias de monitoramento, administração de visitações e controles das observações aos animais”, ressalta.

O estudo está disponível em: http://www.cms.int/publications/wildlife-watching.htm
(PNUMA, 26/03/06)

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