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2006-03-24
Por Nilton Nunes Toledo
Já podemos transformar óleos vegetais em rica fonte de energia. Além de ser o pioneiro na produção da bioenergia para uso em transporte automotivo, até recentemente o Brasil era o único país a possuir um programa para a substituição dos combustíveis fósseis, o Proálcool.

Produzimos, com eficiência, plantas oleaginosas cujos frutos, reagindo com o álcool, dão origem ao tipo de combustível próprio para os motores de auto-combustão. Já dominamos plenamente a tecnologia para a transformação dos óleos vegetais em rica fonte de energia, matéria-prima para o biodiesel.

Dentre as oleaginosas disponíveis, a soja é a campeã no custo e no volume de produção por permitir uma forma de agricultura mecanizável, podendo ocupar grandes áreas e abrir espaço para grandes investimentos.

Os benefícios que o Brasil vem obtendo com isso são muitos, como o fortalecimento da agricultura e da agroindústria, com geração de empregos e desenvolvimento tecnológico.

Observa-se hoje o empenho do governo federal para incentivar o uso do óleo de mamona. Esse empenho se justifica pelo fato de a mamona crescer espontaneamente nas áreas rurais de todo o País. Assim, se os preços forem compensadores, os agricultores terão condições de colher, secar, peneirar e ensacar manualmente os grãos, sem a necessidade de maiores investimentos. Suas características químicas e físicas permitem aplicações – como lubrificante de alto desempenho ou como impermeabilizante (neste caso, após hidrogenação) – mais nobres que o biodiesel. Tudo isso justifica o incentivo e até o subsídio à produção, sobretudo pelos benefícios sociais daí advindos.

Outras fontes de óleo com características semelhantes sob o ponto de vista químico são as palmáceas, como o coco, o babaçu e o dendê. Entre as palmáceas, o babaçu apresenta maior potencial, pois, além do óleo, tem como subprodutos o amido, as fibras e um carvão vegetal de alta qualidade.

Planta nativa brasileira, o babaçu tem sido criminosamente erradicado para dar lugar a pastagens. Assim, há necessidade urgente de um programa que incentive o melhor aproveitamento dessa fonte de bioenergia. Atualmente existem estudos que mostram as melhores formas de cultivo e de processamento do babaçu, substituindo os processos atuais, que, além de artesanais, exploram o trabalho escravo e o infantil.

O dendê é a oleaginosa de maior potencial produtivo entre as palmeiras por se desenvolver bem em regiões úmidas. O problema que se tem com essa cultura são as pragas, o que exige o uso de agrotóxicos. Faz-se necessário, assim, um programa de pesquisas para debelar esse problema, o que permitirá que o dendê passe a ser uma rica fonte de óleo para uso industrial.

Ainda pouco explorado no Brasil, o carvão vegetal é outra importante fonte de energia. A matéria substitui, com grande vantagem, o carvão mineral na produção de aço de excelente qualidade. Além disso, o carvão vegetal exige a plantação de vastas áreas de florestas de eucaliptos, o que traz vantagens para o meio ambiente. É pouco divulgado o fato de que uma floresta madura absorve pequena quantidade de CO2, enquanto uma floresta em crescimento o absorve em altos volumes, gerando quantidade aproximadamente igual de oxigênio. Dessa forma, as jovens florestas que estão substituindo pastagens ou terrenos não-aráveis contribuem para a redução do efeito estufa.

Outra vantagem do eucalipto é que ele deposita, anualmente, cerca de 25 cm de matéria orgânica no solo, melhorando sua fertilidade. Com as condições favoráveis de extensão territorial e de clima, além dos conhecimentos já desenvolvidos, o País tem condições de liderar o mundo na produção de carvão vegetal, deixando de depender da importação de carvão mineral.

Note-se que a economia de divisas é apenas uma das vantagens, quando se pensa na geração de oportunidades para melhor aproveitamento da nossa condição climática e territorial: combinando a produção de biomassa e mineral, poderemos exportar metais puros e suas ligas no lugar dos minerais, o que representa exportar, indiretamente, a produção agrícola.
* Nilton Nunes Toledo é engenheiro de produção, mestre em engenharia mecânica e especialista em bioenergia
(GM, 24/03/06)

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