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2006-03-24
A gripe aviária pode representar o fim para os pequenos criadores de galinhas e abrir as portas para o aparecimento de mais doenças nas fazendas de criação intensiva, disseram grupos de proprietários rurais e de ambientalistas. Entidades ambientalistas e de defesa de agricultores e de criadores de animais disseram que os governos estavam respondendo de forma inadequada ao surto do vírus H5N1, responsável por matar mais de cem pessoas em todo o mundo.

Segundo essas organizações, as autoridades tinham de aceitar o fato de que o surto começou em fazendas de criação intensiva. Ela então foi disseminada principalmente por meio do comércio de aves, produtos de aves e desejos de aves, e não tanto pelas aves selvagens e pelas galinhas criadas em fundo de quintal, que se tornaram o foco da ação de muitos governos no combate ao vírus.

"Acredito que não veríamos uma disseminação desse tipo se não fosse pelo tipo industrial de criação adotado há décadas e que exporta seus produtos e seu modelo", afirmou Devlin Kuyek, do Grain, um grupo internacional que defende o cultivo sustentado e a biodiversidade agrícola. "Para piorar a situação, os governos estão adotando medidas para obrigar os criadores a confinarem as aves e industrializar ainda mais o setor. Na prática, isso significa o fim da criação de aves em pequena escala responsável por alimentar e sustentar centenas de milhões de famílias em todo o mundo."

Segundo alguns grupos, o surto atual de gripe aviária foi provocado por fazendas industriais da China e do sudeste da Ásia e depois enviado para o restante do mundo por meio de produtos e de dejetos. A doença já foi detectada no Oriente Médio, na África e na Europa, obrigando as autoridades a sacrificar milhões de aves. "Globalmente, a rota mais importante de disseminação continua a ser a movimentação sem restrições de aves de criação. Surtos recentes na Índia, na Nigéria e no Egito surgiram dentro da indústria das aves", afirmou o Birdlife International, que reúne grupos conservacionistas. "Aqui, como na maior parte dos surtos de H5N1, há provas circunstanciais contundentes de que a movimentação de aves de criação e de produtos de ave é o fator responsável."

COMÉRCIO ALIMENTA DISSEMINAÇÃO
Alguns países proibiram a importação de aves e de produtos derivados delas. Mas, segundo grupos ambientalistas, o comércio de ovos e de dejetos continua a acontecer. Para o Grupo de Produtores Comerciais, uma longa cadeia de abastecimento deixava os países vulneráveis a todas as doenças que atingem os animais. "Temos de reforçar a proteção nacional contra a importação de produtos potencialmente perigosos", afirmou.

Apesar desse quadro, são as propriedades menores que arcam com os piores custos da luta contra o vírus. No Egito, o governo deu início ao sacrifício de aves em massa para colocar fim ao surto e diz que espera acabar com a criação de galinhas em pequena escala, feita frequentemente no teto das casas em zonas rurais e urbanas. Os grupos envolvidos dizem que uma resposta do tipo pode abrir as portas para novos surtos de doença, argumentando que as galinhas de propriedades menores são mais resistentes que aquelas de grandes criadouros.

"A estratégia adotada, de conter o H5N1 destruindo os bandos geneticamente diversificados de fundos de quintal e expandindo ainda mais a criação do tipo intensiva, irá aumentar a possibilidade de que surja uma versão do vírus da gripe aviária capaz de passar de uma pessoa para outra com facilidade", afirmou Kuyek.
(Reuters, 23/03/06)
http://noticias.uol.com.br/ultnot/reuters/2006/03/23/ult729u55307.jhtm

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