Sustentabilidade e desenvolvimento são incompatíveis no mercado, diz Leonardo Boff
2006-03-24
Não existe possibilidade de conciliar sustentabilidade e desenvolvimento dentro de uma economia de mercado. Essa foi a principal avaliação feita ontem (23) pelo teólogo e filósofo Leonardo Boff, na palestra sobre "Ética, Biodiversidade e Sustentabilidade", promovida pelo Fórum Brasileiro de ONGs e Movimentos Sociais para o Meio Ambiente e Desenvolvimento (FBOMS).
O debate aconteceu em uma tenda montada no estacionamento do local onde ocorre a 8ª Conferência das Partes da Convenção sobre Diversidade Biológica (COP-8) – é nela que estão ocorrendo os eventos paralelos do chamado Fórum Global da Sociedade Civil.
"O desenvolvimento sustentável é um engodo criado para a gente engolir o discurso ecológico. Mas o capitalismo se baseia na produção, no consumo e na acumulação de riquezas. E isso significa expansão, devastação da natureza e desigualdades sociais", argumentou. "Dentro desse sistema não há salvação para a Terra e para os homens. Quem não acredita nisso, está iludido."
"A sustentabilidade é um conceito vindo da ecologia, do equilíbrio dinâmico, onde o mais fraco também tem vez. Mas hoje mais de um terço da humanidade é pobre ou miserável", afirmou Boff. "Desenvolvimento e sustentabilidade não se combinam. Ou percebemos isso ou teremos o mesmo destino que os dinossauros, que reinaram durante 133 milhões de anos e simplesmente sumiram."
"O setor produtivo tem uma grande contribuição a dar ao desenvolvimento sustentável", rebateu a analista ambiental da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Grace Nogueira, em entrevista à Radiobrás. "Os três objetivos principais da CDB [Convenção sobre Diversidade Biológica] são: conservação, usos sustentável e repartição de benefícios – passam pelo crescimento econômico."
Nogueira disse que a questão de meio ambiente é interessante justamente porque "abriga" várias ideologias. "Mas é claro que a viabilidade econômica é a maior preocupação dos empresários, seria pouco realista imaginar o contrário", ponderou ela. "A gente precisa acreditar mais nos instrumentos de regulação, na importância dos procedimentos de licenciamento ambiental, por exemplo."
(Agência Brasil, 23/03/06)