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2006-03-24
A identificação de 15 mil espécimes que vivem sob a terra – um universo de organismos até hoje pouco estudado – pode ser uma das mais significativas notícias divulgadas na 8ª Conferência das Partes da Convenção sobre Diversidade Biológica (COP8), em Curitiba. Cupins, formigas, minhocas, besouros, fungos e bactérias fazem parte de um variedade que, segundo especialistas, pode trazer enormes benefícios à biodiversidade e ao desenvolvimento sustentável, devido à sua contribuição para o equilíbrio de microecossistemas. No entanto, estima-se que, no mundo todo, 95% dessa fauna de solo não tenha sido descoberta ainda.

As novas espécimes identificadas – muitas das quais acredita-se serem novas para a ciência - são fruto do Projeto de Conservação e Sustentabilidade da Biodiversidade do Solo, implementado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), co-financiado pelo Fundo Mundial para o Meio Ambiente (GEF) e realizado no Brasil, Costa do Marfim, Indonésia, Índia, Quênia, México e Uganda.

Os resultados do trabalho realizado no Brasil estão no livro Soil Biodiversity in Amazonian and Other Brazilian Ecosystems (Biodiversidade do Solo nos Ecossistemas da Amazônia e Outros Ecossistemas), lançado na COP8 pela pesquisadora Fátima Moreira, da Universidade Federal de Lavras, instituição que coordena o projeto em solo nacional.

Fátima Moreira ressalta que os primeiros resultados da pesquisa demonstram claramente como o manejo do solo afeta a sustentabilidade dos ecossistemas e a diversidade da fauna de solo. “A biodiversidade do solo foi mais alta em florestas ou terras de pousio (maneira indígena de administrar o solo) e mais baixa em pastos”, disse.

Jeroen Huising, coordenador do projeto em Nairóbi (Quênia), acrescentou que esses seres subterrâneos são potencial fonte para restauração de terras danificadas e reduzem naturalmente a necessidade do uso de químicos como fertilizantes e pesticidas.

A primeira fase do projeto - onde foram investidos US$ 26 milhões - envolveu o levantamento de inventário e estoque nos países pesquisados. A segunda etapa será o estudo da gestão desses organimos para melhoramento da agricultura sustentável. No Brasil, os trabalhos ocorrem na região do Alto Rio Solimões, região de povos indígenas remanescentes, também conhecida por sua importância para a agrobiodiversidade amazônica. “Mas há ainda um estoque de vida imenso à espera para ser descoberto”, diz Fátima. Outro fator importante foi que a pesquisa brasileira envolveu 70 estudantes em treinamento taxonômico, contribuindo para melhorar e aumentar a escassa capacitação nacional nessa área.

O secretário- executivo da Convenção da Diversidade Biológica, Ahmed Djoghlaf, lembrou os países que desfrutam de melhoria na produção de suas safras ao escolherem bactérias e fungos de solo como substituto para fertilizantes artificiais. Ele relatou alguns casos dos países envolvidos no projeto. Na Índia, por exemplo, os pesquisadores confirmam casos de safras que aumentaram 70% através da técnica de adicionar pequenos organismos benéficos à área de enraizamento do solo. Os pesquisadores da Indonésia também confirmam impacto positivo. E, no México, os agricultores que têm testado tipos de micróbios como bio-fertilizantes relataram não somente aumento da safra, mas também queda no custo da produção.

Os cientistas acrescentam que o impacto da identificação e estudo da fauna de solo vai além de benefícios econômicos diretos. “Impulsionar o uso desses organismos como bio-fertilizantes pode reduzir a necessidade da agricultura de acabar com mais florestas”, explica a pesquisadora da Universidade de Lavras.

Outras ações fundamentais para a humanidade, como o controle de pestes e pragas e a fixação de carbono pelas florestas, também exigem a participação desses minúsculos seres. Deles dependem as atividades para que uma floresta se mantenha saudável ou se regenere.

“São eles que permitem a circulação de nutrientes da terra para as plantas, o processo de decomposição de animais e vegetais e até a disseminação de semente. As regiões tropicais, por exemplo, são as que mais dependem deles já que o calor e a chuva não permitem que o solo preserve nutrientes por muito tempo”, explica Hubert Höfer, coordenador do Solobioma, um projeto de estudo sobre a fauna de solo realizado entre o Museu de História Natural de Karsruhe (Alemanha), a Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS) e a Universidade Federal do Paraná (UFPR).

Realizado desde 2003, o Solobioma é desenvolvido na Reserva Natural do Rio Cachoeira, em Antonina, Paraná. Uma das metas do projeto é acompanhar como microorganismos e insetos interferem na regeneração de áreas de Floresta Atlântica. “Esses organismos reagem rapidamente a mudanças e distúrbios, indicando desequilíbrios. Por isso, conhecê-los permite que providências sejam tomadas para reduzir impactos sobre determinado ecossistema”, acrescenta Höfer.

Até a medicina possui um exemplo típico de benefícios resultantes da ação desses seres vivos: a penicilina, o primeiro antibiótico. Criado em 1928, foi descoberto a partir de culturas da bactéria Penicillium Notatum.
(MOP3-COP8, 23/03/06) Terminator sofre derrota na Câmara A indústria da biotecnologia sofreu uma derrota no Congresso Nacional. Isto porque a Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Câmara rejeitou, na terça-feira (21), o projeto de lei 5964/05, apresentado pela deputada Kátia Abreu (PFL-TO) em 28 de setembro de 2005, que autoriza a utilização de tecnologia genética de restrição de uso no plantio de transgênicos. Ou seja, o uso das sementes estéreis Terminator. Os ambientalistas comemoraram a vitória pelos corredores do Expo Trade, em Pinhais, na Grande Curitiba, onde acontece a 8ª Conferência das Partes da Convenção sobre Diversidade Biológica (COP8).

A rejeição ao PL representa uma derrota para a indústria da biotecnologia que defende o uso de sementes Terminator. A proposta da deputada Kátia Abreu também retira da Lei de Biossegurança as penas previstas em caso de uso dessa tecnologia (pena de reclusão de dois a cinco anos e multa). O parecer pela rejeição foi apresentado pelo deputado João Alfredo (PSOL-CE) para frustração da pefelista e do relator do projeto, deputado Oliveira Filho (PL-PR). A proposta segue agora para as comissões de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural; e de Constituição e Justiça e de Cidadania. Depois, vai para o Plenário da Câmara dos Deputados.
(MOP3-COP8, 23/03/06)

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