Greenpeace desafia governos a tirar parques do papel para proteger a biodiversidade
2006-03-24
O Greenpeace montou ontem (23) um parque de papel de 100 metros quadrados em frente ao Expotrade Center, em Curitiba, no Paraná para desafiar os governos que participam da 8ª Conferência das Partes (COP 8) da Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB) a conter a perda de biodiversidade através da criação de novas áreas protegidas e implementação das já existentes. Os animais e as árvores de papel reciclado, especialmente produzidos para a CDB por uma jovem artesã da Grande São Paulo, representam os sete biomas florestais mais ameaçados do mundo. Crianças de sete capitais brasileiras enviaram mais de mil folhas com diferentes mensagens para compor as árvores do parque de papel.
Nos últimos três anos, o governo Lula criou aproximadamente 14,4 milhões de hectares de unidades de conservação (UCs) na Amazônia, um número maior em comparação aos oito anos do governo FHC. “Se mantiver o ritmo, o País poderá se tornar um exemplo para a CDB, que se comprometeu a criar uma rede expressiva de áreas protegidas até 2010 para reduzir a perda de biodiversidade”, disse Marcelo Marquesini, campaigner do Greenpeace na Amazônia que participa da reunião em Curitiba.
Mas, apenas a criação de unidades de conservação não é suficiente. Diagnóstico elaborado pelo Greenpeace sobre a situação da implementação de áreas protegidas na Amazônia aponta para a necessidade de encontrar novos mecanismos de financiamento para o estabelecimento efetivo de Ucs. A falta de pessoal nas áreas de conservação é um dos maiores problemas para a sua implementação. De acordo com o estudo realizado pela Fundação Vitória Amazônica (FVA), em média, existe um funcionário responsável por 170 mil hectares nas Ucs federais. Já nas áreas estaduais, o caso é mais grave, com um funcionário para cada 279 mil hectares.
“Além de funcionários, faltam infra-estrutura mínima, demarcação física, regularização fundiária e implementação de plano de manejo nas unidades de conservação na Amazônia”, disse Marquesini. “O Brasil deveria aproveitar a CDB para sinalizar um compromisso sério com a nossa biodiversidade, com recursos para a implementação das áreas protegidas”.
Para o Greenpeace, o futuro da biodiversidade do planeta está intimamente ligado à força de uma rede global de áreas protegidas, tanto em termos de sua configuração espacial quando da diversidade de habitats. Mapas e relatórios divulgados no início da semana pela organização ambientalista expõem o peso das atividades humanas – como o desmatamento ilegal impulsionado pela expanso da fronteira agropecuária na Amazônia e a exploração predatória de madeira – sobre as últimas florestas do planeta. O estudo revela que menos de 10% da superfície terrestre no mundo permanece com cobertura original de florestas, revelando a necessidade do estabelecimento urgente de uma rede global de áreas protegidas.
“Os governos devem agir agora para tirar os parques do papel e garantir o futuro da biodiversidade no planeta. Se por um lado o governo brasileiro tem cumprido suas metas de criar novas unidades de conservação, a falta de implementação destas áreas pode colocar em risco todo o sucesso obtido. O País ainda está longe de garantir a proteção da biodiversidade e não investiu o necessário para frear a destruição da Amazônia”, concluiu Marquesini.
(Greenpeace Brasil, 23/03/06)