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2006-03-24
Cumprir a meta de frear a perda de diversidade biológica antes de 2010 é um desafio formidável, mas não impossível, de acordo com a segunda edição do Panorama da Biodiversidade Global 2 (GBO2) divulgado em Curitiba (PR). Seis milhões de hectares desmatados anualmente, 35% de mangues perdidos em duas décadas e redução de 40% na abundância de espécies vegetais e animais em três mil áreas silvestres revisadas entre 1970 e 2000 são alguns dados que configuram as ameaças, afirma o documento apresentado por ocasião da abertura da oitava Conferência das Partes do Convênio sobre a Diversidade Biológica (COP-8).

Os fatores de deterioração de ecossistemas e de recursos biológicos parecem infinitos. Cada dia há mais espécies em risco de extinção, de 292 bacias fluviais avaliadas, apenas 12% de seus territórios ficaram livres dos efeitos de represas. Isso contribuiu para que as espécies aquáticas continentais se reduzissem pela metade. Nos oceanos, a superexploração pesqueira fez com que a quantidade de peixes grandes baixasse em dois terços nas últimas cinco décadas. É um processo de perda persistente que, aparentemente, tende a se agravar, já que a demanda global de recursos naturais ultrapassa em 20% a capacidade planetária de recompô-los, comprovando que o consumo atual da humanidade não é sustentável. Além disso, somam-se a crescente contaminação, as mudanças climáticas, a desertificação e outros processos provocados pela ação humana.

A biodiversidade do mundo suporta “graves ameaças e o declínio”, resumiu o secretário-executivo do Convênio sobre a Diversidade Biológica, Ahmed Djoghlaf, ao apresentar o documento de 81 páginas. A esse quadro assustador se contrapõe o Plano Estratégico aprovado há quatro anos na COP-6, realizada em Haia, na Holanda, e confirmado em várias cúpulas mundiais promovidas pela Organização das Nações Unidas. Ali foram fixados 11 objetivos e 21 metas, cujo cumprimento é avaliado pelo GBO2. A meta central, que engloba as demais, se propõe reduzir significativamente a perda de biodiversidade antes de 2010.

Difícil, mas “atingível”, ou “possível” são as avaliações de muitas metas, como a de pôr em efetiva conservação pelo menos 10% dos ecossistemas e biomas mundiais. A situação é desigual, enquanto já se protege 12% das áreas terrestres, nas áreas marinhas a proteção chega a 0,6%. Manter ou recuperar as populações de espécies escolhidas é possível, embora se observe um declínio persistente da abundância e distribuição de muitas delas. O aumento das espécies invasoras que colocam em risco a biodiversidade de determinados biomas (ecossistemas de grandes extensões) é uma tendência agravada pela ampliação do comércio, turismo e outros movimentos de bens e pessoas, mas pode-se fortalecer medidas de controle, segundo o relatório.

Criar consciência nos níveis mundial, nacional e local sobre os riscos é uma tarefa urgente. “Está claro que a biodiversidade encontra-se no centro da luta pelo desenvolvimento sustentável”, pois os bens e serviços prestados pela natureza têm valor incalculável e constituem “a base da subsistência em todas as partes”, disse Djoghlaf. A necessidade que tem a humanidade por ecossistemas sãos e biodiversos constitui parte do informe, aproveitando dados da Avaliação dos Ecossistemas do Milênio, elaborada por 1.300 cientistas de 95 países e divulgada no ano passado. A Avaliação identifica 24 serviços ambientais dependentes dos recursos naturais, dos quais 15 estão em declínio, como a provisão de água doce, a pesca marinha, a autolimpeza da atmosfera diante da contaminação e a capacidade dos ecossistemas agrícolas de controlar pragas.

Conter a taxa de perda da biodiversidade nos próximos quatro anos e nos contextos global, regional e nacional exige “esforços adicionais sem precedentes”, conclui o informe GBO2, produzido pela Secretaria do Convênio sobre a Diversidade Biológica, com a colaboração de numerosas agências das Nações Unidas, governos e organizações ambientalistas, científicas e universitárias. Será necessário colocar em marcha os programas de ação já definidos e adotar orientações já conhecidas, como melhorar a eficiência agrícola, proteger áreas de grande biodiversidade, aproveitar terras já degradadas para a expansão agrícola e reduzir os desperdícios de recursos naturais, além de aumentar os investimentos em recuperação de ecossistemas.

Esta COP-8, que terminará no próximo dia 31, representa uma oportunidade para que os governos assumam os desafios necessários e cheguem a 2010 celebrando o cumprimento das metas e a reversão da crise, e não chorando “um funeral”, afirmou o secretário-executivo do Convênio.
(IPS/Envolverde, 23/03/06)

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