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2006-03-23
Secas, inundações, mudanças nos padrões de chuva e aumento no nível dos oceanos estão ameaçando o desenvolvimento nos países mais pobres do mundo. Regiões da África e do sul da Ásia (que abrigam mais de 1,1 bilhão de pessoas que vivem sem água potável) estão entre as que serão mais fortemente atingidas pelas mudanças nos padrões do tempo – afirmam os especialistas reunidos no 4º Fórum Mundial da Água. Eles atribuem as ameaças às mudanças globais do clima.

“As secas irão piorar. Nós vamos ver desflorestamento, queimadas, perda de biodiversidade e degradação do meio ambiente”, diz Michel Jarraud – secretário geral da World Meteorological Organization (organização mundial de meteorologia). “Os países menos desenvolvidos são os mais afetados. Geralmente, os países em desenvolvimento não possuem recursos para mitigar esses impactos”.

Os gases causadores do efeito estufa, como o dióxido de carbono, têm se acumulado cada vez mais rápido na atmosfera desde a Revolução Industrial, aumentando o medo de que possam aquecer o clima do planeta pelo bloqueio do calor do sol. Os cientistas acreditam que o aquecimento geral vai derreter geleiras e calotas polares, aumentando o nível dos oceanos de maneira suficiente para inundar pequenas ilhas e cidades litorâneas em todo o mundo. Um clima mais quente poderia ainda provocar alterações no tempo e na agricultura, além de permitir a proliferação de doenças em novas áreas.

Gana Ummayan Sangstha, uma voluntária que ajudou a instalar um sistema comunitário de água na província pobre de Satkhira, no litoral de Bangladesh, já percebe os efeitos do aquecimento global. “Bangladesh é o país com menor altitude do mundo. Há intrusões de salinidade em grandes áreas por causa das mudanças climáticas e o aumento nos níveis de água no oceano”, comenta. Quando o sal entra nos lençóis de água – assim como nos poços usados em vários projetos de Bangladesh – ela passa a servir menos para ingestão ou irrigação.

O aumento da salinidade é também um problema em áreas em torno de Karachi, no Paquistão, onde Tanveer Arif trabalha em um projeto rural para ajudar a construir tanques para a coleta de água em ambientes áridos. Ele não culpa o aquecimento global pelo aumento na salinidade, mas tem percebido menos chuvas enchendo os seus tanques. “Há duas décadas ocorrem mudanças climáticas e as chuvas estão se movendo para o leste”, afirma Arif.

Joe Madiath, da organização para o desenvolvimento rural Gram Vikas, baseada na Índia, diz que as mudanças climáticas estão devastando Orissa – um dos estados mais pobres do país, que ele chama de “o desastre capital da Índia”. “Inundações, tufões... são vocês que nomeiam isso, nós temos isso”, diz Madiath, que instala tanques de água e banheiros comunitários. Enquanto a quantidade de chuvas dos últimos anos permanece constante, vem tudo de uma vez só, ele diz que o problema está ficando pior. O responsável pelo serviço nacional de tempo do México diz que boa parte da costa de Yucatan poderia eventualmente ficar inundada sela elevação dos níveis do mar.

Jaime Pittock, diretor executivo do World Wildlife Fund (fundo mundial para vida selvagem), acredita que os grandes rios também podem ser afetados pelo aquecimento global. “Rios como o Indus e o Ganges podem ter seus fluxos reduzidos”, ele afirma. “Neste momento, eles possuem uma base estável de fluxo proveniente do derretimento das geleiras, mas quando o fluxo das geleiras for reduzido, os rios se tornarão inconstantes, com grandes fluxos nas estações molhadas e pouca água nas estações secas”. “Isso será devastador, não apenas para as pessoas, mas para o meio ambiente”, acrescenta.

Além do mais, os países desenvolvidos podem suportar mais facilmente o impacto dos custos de um problema causado em parte pelas nações industrializadas, onde as fábricas e os veículos contribuem enormemente para a produção de gases do efeito estufa.
( CarbonoBrasil, 22/03/06)
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