Preocupados com o desmatamento das florestas de araucárias do Paraná, estudantes, movimentos e ONGs ambientalistas do Sul do Brasil resolveram unir forças e chamar a atenção para o problema. Aproveitando a 8ª Conferência das Partes da Convenção sobre Diversidade Biológica – a COP8 – , realizada em Curitiba, foi feita uma parceria com a Master, agência de publicidade, para divulgar uma campanha em defesa das araucárias. A iniciativa, apoiada pelo RMA (Rede de ONGs da Mata Atlântica), lança a seguinte pergunta: "Um dos maiores orgulhos do Paraná, a Floresta com Araucárias, foi reduzido a menos de 1% do seu tamanho original.
O que você acha disso? ”.
De acordo com o engenheiro florestal e assessor de comunicação da Apremavi –Associação para Preservação do Vale do Itajaí – Philipp Stumpe, a floresta com Araucária está mais ameaçada do que nunca. "Dentre os biomas da Mata Atlântica, é provavelmente o que corre maior risco de desaparecer para sempre, já que resta menos de 1% do que outrora encobria vastas regiões do sul do Brasil". Na sua avaliação, embora o governo federal tenha criado Unidades de Conservação para proteger importantes remanescentes, ainda há áreas onde a determinação não impera. "É o caso do Parque Nacional das Araucárias, em Ponte Serrada e Passos Maia, localizado no Estado de Santa Catarina", informa.
Pesquisa realizada no ano passado mostrou que mais de 97% dos entrevistados nos Estados de Santa Catarina e do Paraná são a favor da preservação destas florestas. Cerca de 82% dos paranaenses e 78% dos catarinense afirmaram estar conscientes de que as Florestas com Araucárias estão em extinção. (Consulte mais informações em http://www.apremavi.com.br/news/pnews075.htm). A preocupação quanto ao desmatamento faz sentindo, segundo Philipp Stumpe, por que a Araucária é a árvore que dá características ao que os cientistas chamam de "Floresta Ombrófila Mista". Trata-se de um complexo ecossistema com centenas de espécies de plantas e animais, muitos deles à beira da extinção. "É pela proteção desse ecossistema como um todo que a ONG está divulgando e pedindo para que todos que querem manter essa área preservada e em conservação, acessem o site www.oquevoceachadisso.org.br e manifestem sua opinião a respeito", frisa o engenheiro florestal.
Manifestações de apoio
O site, criado no início do mês, já recebeu diversas manifestações solidárias à iniciativa. Os recados chegam de todos os cantos do país. Na avaliação de Miriam Prochnow, da Rede de ONGs da Mata Atlântica, por exemplo, "isso é um verdadeiro desastre para a sobrevivência das futuras gerações".
De Porto Alegre vem o recado de Vicente Medaglia, um dos coordenadores do INGA (Instituto Gaúcho de Estudos Ambientais). De acordo com ele, a situação "é o testemunho da insustentabilidade do modelo de uso dos recursos naturais perpetuado pela colonização européia". Ele lembra que na época do café, a Araucária foi o segundo produto de exportação do Brasil. "Foi graças a esse capital, dentre outros fatores, que o sul do país se desenvolveu tanto em relação ao resto. Mas foi um modelo de desenvolvimento insustentável. Ninguém nunca se preocupou em replantar a floresta que parecia inesgotável, mas se esgotou", lamenta.
O servidor público paranaense Carlos Amaral endossa as críticas. "É um sinal claro do que está acontecendo não só aqui no Paraná, mas em todos os recantos do nosso planeta: o triste fim da vida como nós a conhecemos. A meu ver, já não há mais esperança em revertermos esse quadro catastrófico e o homem caminha rápido para sua auto-destruição".
Para Thais Costa, do grupo Pró-Araucária, entretanto, ainda há possibilidade de alterar este quadro. "Acho que ainda não é tempo de desistir. Só espero que os tomadores de decisão, ou que estão no poder, (e que tenho dúvidas se têm competência para tomar alguma decisão) concordem comigo e façam algo logo para impedir essa destruição". Outras opiniões no endereço http://www.oquevoceachadisso.org.br/hp/listamsgs.asp.
Campanhas paralelas
Nos próximos dias, outras manifestações em defesa da preservação das Florestas com Araucárias serão realizadas. De acordo com Philipp Stumpe, no sábado dia 25 de março, às 10h e 30min, será feita uma grande manifestação em Curitiba. O ato contará com o apoio de instituições como a RMA, o Grupo Pró-Araucária, o Movimento Pró-Parque de Ponta Grossa, Grupo Viva a Floresta, Universidade Federal do Paraná, PUC/PR e SOS Mata Atlântica. "Vai ser uma mobilização pela proteção da biodiversidade do país, onde os movimentos estarão segurando faixas e vestindo camisetas da campanha". Na parte da frente da camiseta, ressalta, terá uma árvore de araucária, e atrás estará a frase carro-chefe da campanha.
Na próxima segunda-feira, às 18h30, de acordo com a RMA, será realizado o "side event" Mata Atlântica – no qual será discutido a situação e as tendências do bioma mais ameaçado do Brasil. Representantes de entidades do governo federal e da Agência de Cooperação Técnica Alemã GTZ estarão presentes.
No dia seguinte, terça-feira, a entidade lançará o livro "Mata Atlântica: uma Rede pela Floresta". A publicação, que foi organizada pela Coordenadora Geral da ONG, Miriam Prochnow, e pela jornalista Maura Campanili, traz a realidade de cada um dos ecossistemas, pela visão dos integrantes de entidades dos próprios Estados.
Há ainda uma proposta criativa assinada pela SPVS, Rede de ONGs da Mata Atlântica, Pró-Araucária, Pró-Parque e Viva a Floresta. Trata-se da "Mídia de banheiro", que foi fixada em locais gastronômicos da cidade. A agência Master confeccionou cerca de 80 cartazetes com mensagens fazendo referência à obra de artistas paranaenses como Poty Lazarotto, Paulo Leminski e Helena Kolody juntamente com a frase: "É como se só restasse isto dos trabalhos de --- (no caso, um dos três artistas). O que você acha disso?". Segundo Philipp Stumpe, a própria agência publicitária procurou a SPVS. A proposta era fazer algo que chamasse a atenção das autoridades sobre o problema.
Por Tatiana Feldens