Em artigo, José Lutzenberger explica que a faixa de temperaturas que torna possível a bioquímica construir células vivas e organismos, a qual é também a faixa onde a água pode coexistir nas fases líquida, gasosa e sólida, é extremamente estreita, se comparada com as temperaturas que prevalecem no Universo como um todo. A faixa propícia para a vida vai de alguns graus abaixo de zero, onde a vida sobrevive através do repouso, até aproximadamente 80 graus positivos para alguns poucos organismos. Sabe-se, por considerações cosmológicas, que o Sol é atualmente de 20 a 30% mais quente do que era quando a vida começou a se estruturar nos oceanos primordiais. O planeta poderia ter acabado numa situação de descontrolado efeito estufa, como em Vênus; um pouco mais frio, mas, ainda assim, com ao redor de 200°C positivos. Os oceanos teriam se evaporado. Ou, na época das primeiras manifestações de Vida, com o Sol ainda mais frio, houvesse nebulosidade demais, o desequilíbrio poderia ter ido em sentido contrário. No entanto, conscientemente, todos os mecanismos de controle climático estão sendo bagunçados - com dióxido de carbono demais, metano, óxidos de nitrogênio, óxidos de enxofre, freons, hidrocarbonetos, desmatamento e desertificação. A era glacial ou derretimento das capas de gelo da Groelândia e Antártida, com inundação das maiores cidades e territórios de elevada densidade populacional não precisa ocorrer. Atualmente, somos ao redor de 6 bilhões de humanos e as reservas de alimentos estão diminuindo. Não adianta um clima de praia, se não há mais o suficiente para comer; se as convulsões sociais, revoluções e guerras que resultariam daí, com figuras como Saddam Hussein e outros tendo acesso a armas de destruição em massa, está acontecendo muito antes do previsto. É difícil fazer os poderosos compreenderem que a Moderna Sociedade Industrial está embarcada precisamente neste tipo de experimento. (The Ecologist/6, 25/09)