Petrobras deve investir US$ 16 bi para ofertar 100 milhões de metros cúbicos de gás por dia em 2010
2006-03-23
A Petrobras espera chegar a 2010 com capacidade de oferta de gás natural da ordem de 100 milhões de barris por dia, dos quais 65% da produção própria companhia e 35% importados da Bolívia. Para isso, a empresa planeja investir no próximos anos US$ 16 bilhões - US$ 8,8 bilhões na produção e US$ 5 bilhões na área de infra-estrutura de transporte do produto e na distribuição e desenvolvimento.
As informações foram dadas pelo diretor de Energia e Gás da petrolífera brasileira, Ildo Sauer. Segundo ele, a Petrobras tem um vigoroso programa de investimentos na área de gás natural no Brasil com vistas a reduzir a dependência do produto importado.
"Isto implica também investimentos nos próximos 10 anos de US$ 10 bilhões a US$ 12 bilhões em projetos de desenvolvimento da produção de gás natural na Bacia de Santos. Para ter uma exata noção da importância desse crescimento, basta lembrar que no ano passado o volume de gás vendido ao mercado esteve situado entre 40 e 42 milhões de metros cúbicos por dia, portanto uma expansão na oferta de mais de 100%".
Sauer procurou deixar claro porém, que a petrolífera não dispõe de um "sistema de atendimento obrigatório da demanda" como no setor elétrico - onde o consumidor não tem alternativa. O gás apenas ocupa um espaço no mercado de combustíveis, onde é competitivo ou onde tem vantagem ambiental. "Não existe essa idéia de que tem uma demanda fixa que tem que ser atendida a qualquer preço e a qualquer custo. O que existe é um mercado que é desenvolvido de acordo com a sua rentabilidade".
Ele lembrou que a Petrobras não detém o monopólio da produção ou da distribuição do gás natural. "É um mercado inteiramente livre e competitivo, havendo já outros atores atuando no Brasil - embora em menor escala. A legislação atual permite, e dá todas as garantias, investir em todas as fases da cadeia: exploração prospecção, transporte. É um mercado aberto e desenvolvido sobre o regime de risco e que visa à rentabilidade - que é também o que busca a Petrobras".
Segundo Sauer, as projeções de uma oferta de 100 milhões de metros cúbicos de gás até 2010 levam em conta a expectativa da rentabilidade da companhia. "A demanda que nós esperamos é esta ai. Um crescimento anual do consumo da ordem de 10% até 2010. É o que nós achamos que pode ser atendido com rentabilidade. Agora é bom que se lembre que o gás é um produto competitivo que disputa espaço com outros produtos derivados do petróleo, como a gasolina e o diesel".
O Brasil importa atualmente entre 24 e 30 milhões de metros cúbicos diários de gás natural da Bolívia, o que corresponde a cerca de 50% da demanda interna.
Diretor da Petrobras diz que cenário nas relações com a Bolívia nunca foi tão claro
Nunca houve um cenário tão claro nas relações da Petrobras com o governo boliviano. Foi com esta afirmação que o diretor de Gás e Energia da Petrobras, Ildo Sauer, procurou minimizar as declarações dadas pelo presidente da Bolívia, Evo Morales, de que pretende estatizar as reservas e os ativos atualmente em poder das empresas internacionais que atuam no país.
"Nos últimos anos, nunca houve um horizonte tão claro com relação à Bolívia para se resolver tudo, como existe agora. Mas é preciso lembrar que os bolivianos estão no meio de um processo de negociação para a elaboração da Constituinte, que está tomando a atenção do povo e das autoridades", justificou.
Segundo Sauer, a prova desse bom momento é que a Petrobras e a Yacimientos Petrolíferos Fiscales Bolivianos (YFPB), a estatal boliviana, estão na eminência de assinar um Memorando de Entendimento contendo diversas linhas de ações incluindo sete áreas de cooperação e associação entre as duas empresas. Estes entendimentos significam associação nas refinarias, na exploração e produção de petróleo, cooperação na área de biocombustíveis, no desenvolvimento do mercado de gás natural, na conversão veicular de gasolina e diesel para gás e até na disseminação do uso do gás natural no setor residencial boliviano.
Está ainda entre essas sete áreas a possibilidade de transferência tecnológica e formação de recursos humanos pelo Centro de Treinamento da Petrobras. O objetivo é formar gerentes e técnicos necessários para gerir o sistema de gás da Bolívia e desenvolver estudos sobre o complexo industrial a ser criado na fronteira, que poderá eventualmente contemplar a fábrica de fertilizantes, termoelétrica e um pólo gás-químico.
Sauer fez questão de ressaltar, porém, que os acordos só serão levados adiante se os grupos de trabalho concluírem de maneira favorável às negociações em curso. Segundo ele, o documento ainda não foi assinado por uma incompatibilidade nas agendas de Evo Morales, do presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli e outras autoridades dos dois países. "O positivo nestes entendimentos é que eles abrem perspectivas para novas oportunidades de negócios, em um ambiente já estabilizado na Bolívia", avaliou.
(Radiobras, 22/03/06)