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2006-03-23
Os representantes dos 187 países que participam da 8.ª Conferência das Partes da Convenção sobre Diversidade Biológica (COP8) têm o importante desafio de encontrar uma solução para combater a perda acelerada de biodiversidade, sob pena de o mundo não atingir os Objetivos de Desenvolvimentos do Milênio propostos pelas Nações Unidas para 2015.

De acordo com a Avaliação Ecossistêmica do Milênio, um diagnóstico encomendado pelas Nações Unidas a 1350 cientistas de 95 países e divulgado em março do ano passado, 60% dos ecossistemas estão degradados e, se nada for feito, haverá um colapso futuro na capacidade do planeta de fornecer bens e serviços naturais aos seres humanos.

“Este cenário vai exigir uma mobilização global extra, envolvendo compromissos adicionais de governos e da sociedade civil", destaca o gerente de Conservação de Biodiversidade do Ministério do Meio Ambiente, Braúlio Ferreira de Souza Dias. “Os países precisam acelerar a reversão da destruição da fauna e flora do planeta, antes que seja tarde demais”, completou Dias. Segundo ele, o planeta está em meio a um processo de extinção em massa da biodiversidade sem precedentes nos tempos recentes. “Semelhante apenas ao que ocorreu há 65 milhões de anos, quando os dinossauros foram varridos da face da terra”, comparou. As taxas de extinção no mundo e no Brasil estão de cem a mil vezes acima do patamar aceitável.

Apenas ilhas de biodiversidade estão a salvo
Dias explicou que a extinção é um fenômeno natural, mas as taxas atuais, em função das atividades humanas e pressões diretas, como exploração predatória, conversão de florestas em pastos, ou indiretas, a exemplo do efeito estufa, correm em um ritmo acelerado. Segundo ele, algumas ilhas de biodiversidade estão sendo salvas “Mas mesmo estas correm o risco de desaparecer em função de seu isolamento”, alertou.

Ambientalistas de todo o mundo são da posição de que não se trata apenas da perda de espécies, mas também da variabilidade genética, da qual depende metade do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, com o agronegócio, setor de florestas, de pesca, ecoturismo, entre outros, e ainda da redução dos serviços ambientais, como oferta de água.

“Os relatórios da Avaliação Ecossistêmica do Milênio mostram que nunca se perdeu tantos ecossistemas e biodiversidade como nos últimos 50 anos. Infelizmente, o cenário futuro é desanimador. Com a melhor das boas intenções, vamos perder ainda mais nas próximas cinco décadas”, previu. Esta perda será sentida de forma diferente por países pobres e ricos. “Quem tem dinheiro e tecnologia, sempre encontra soluções. Mas as nações menos favorecidas não terão saída”, observou Dias.

Na visão do gerente do Ministério do Meio Ambiente, as soluções vão envolver “mais gente, mais dinheiro, mais capacitação e mais envolvimento”. Além disso, é preciso, segundo ele, que o tema biodiversidade saia do grotão ambiental e acadêmico e seja internalizado em outros setores. “Essa é uma maneira de conseguirmos, no campo, os avanços que estamos tendo na área institucional e política”, acrescentou. Embora os números não sejam animadores, Braúlio destacou que houve melhoras nas áreas de planejamento, marco legal, programas de captação de recursos e criação de unidades de conservação.

Hotspot
Uma das propostas que poderá ser apresentada na COP8 será a de ampliar a quantidade de Hotspots do planeta. Os Hotspots são áreas com pelo menos 1,5 mil espécies endêmicas de plantas e que tenha perdido mais de 3/4 de sua vegetação original. Os Hotspots identificam as áreas mais importantes para preservar a biodiversidade na Terra.

Até o ano passado, foram demarcados 34 hotspots em todo o planeta. Eles representam o hábitat de 75% dos mamíferos, aves e anfíbios mais ameaçados. Mesmo assim, somando a área de todos os Hotspots temos apenas 2,3% da superfície terrestre, onde se encontram 50% das plantas e 42% dos vertebrados conhecidos.

As Américas concentram a maioria dos 17 países megadiversos. Além do Brasil, Colômbia, México, Venezuela, Equador, Peru e Estados Unidos; detém Hotspots também a África do Sul, Madagascar, República Democrática do Congo (ex-Zaire), Indonésia, China, Papua Nova Guiné, Índia, Malásia, Filipinas e Austrália.

O Brasil é o campeão absoluto de biodiversidade terrestre, reunindo quase 12% de toda a vida natural do planeta. O país concentra 55 mil espécies de plantas superiores, ou 22% de todas as que existem no mundo . Mais de 500 espécies de mamíferos e de 3 mil espécies de peixes de água doce e cerca de 13 milhões de insetos e mais de 70 espécies de psitacídeos – araras, papagaios e periquitos – estão nos biomas brasileiros.
Por Aldem Bourscheit, Assessoria de Imprensa COP8/MOP3

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