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2006-03-23
A Fundação O Boticário de Proteção à Natureza, do grupo O Boticário, foi escolhida para comandar um projeto inédito que vai organizar, com recursos do Banco Mundial (Bird), um banco de dados sobre unidades de conservação nas Américas. A entidade lidera um consórcio de oito instituições que terá como missão reunir e disponibilizar informações de áreas de proteção ambiental. O projeto vai integrar a Rede Temática de Áreas Protegidas, um programa da Inter-American Biodiversity Information Network (Iabin), ligada à Organização dos Estados Americanos (OEA).

A idéia é disponibilizar informações que poderão auxiliar no estabelecimento de políticas públicas e contribuir para o desenvolvimento de vários estudos, explicou Miguel Milano, diretor da Fundação O Boticário. Segundo ele, o banco de dados estará disponível para acesso público, desde o início do projeto e, até a sua conclusão, será constantemente alimentado e ampliado de acordo com as atividades do projeto.

Para os primeiros dois anos, estão previstos recursos de US$ 500 mil, dos quais metade bancada pelo Bird e a outra parte pelas instituições que fazem parte do consórcio. Já existem levantamentos sobre áreas de conservação, mas o mérito desse novo programa, segundo Milano, estará em padronizar as informações, de maneira que possam ser efetuadas comparações entre os Países.

O levantamento incluirá descrições gerais do local (com dados locais, data do estabelecimento, área, e historia da gerência), assim como descrições de populações humanas e os usos da área, uma avaliação da eficácia da gerência, e inventários da espécie de animais e plantas. "O nosso foco é que daqui a cinco anos possamos ter um quadro evolutivo dessas condições", afirmou.

A pesquisa, segundo Milano, vai compreender todos os países das Américas, inclusive os Estados Unidos, não signatário da Convenção sobre Diversidade Biológica. A reunião que dá a partida para os trabalhos do consórcio será no próximo dia 27, paralelamente à 8ª Conferência das Partes da Convenção sobre Diversidade Biológica (COP8), que ocorre até 31 de março em Curitiba.

Não por acaso, a COP8 vai ter entre os temas principais a criação no Brasil de unidades de conservação em áreas consideradas de conflito e a proteção de ilhas oceânicas, de terras áridas e subúmidas. "Um trabalho como esse se torna ainda mais importante já que as políticas públicas não se limitam mais apenas a um determinado País. As decisões e soluções são regionais e hemisféricas" disse Milano.

Fazem parte do grupo coordenado pela Fundação O Boticário a TNC (The Nature Conservancy), WWF Internacional (World Wildlife Foundation), UNEP-WCMC(United Nations Environment Programme World Conservation Monitoring Centre), UICN-Sul (Unión Mundial para la Naturaleza– América Del Sur), WICE (World Institutefor Conservation and Environment), Alexander Von-Humboldt Institute e Ecociência Foundation. Juntas, essas entidades passaram por uma seleção do IABIN, que está escolhendo também consórcios para trabalhar sobre outros temas, como espécies em extinção, espécies invasoras, polinizadoras e ecossitesmas.

A Fundação O Boticário também participa (não como líder) de um outro consórcio que disputa o programa da IABIN nesta última área.

A Iabin (Rede Interamericana de Informação sobre Biodiversidade, na tradução para o português) foi criada em 1996 a partir da Cúpula das Américas para o Desenvolvimento Sustentável, que foi realizada em Santa Cruz, na Bolívia. O objetivo é fornecer infra-estrutura de informação de rede (padrões e protocolos) e conteúdo sobre biodiversidade para basear tomadas de decisão particularmente para problemas nas áreas de desenvolvimento humano e de conservação.

De acordo com Milano, cerca de 20 pessoas já trabalham diretamente no levantamento de áreas protegidas nas Américas, número que deverá crescer à medida que o projeto tome corpo. A Fundação O Boticário acaba de contratar, por exemplo, um especialista com doutorado em bioinformática na Inglaterra para ficar responsável pela estruturação dos dados na rede, já que o acesso do público será feito pela internet.

Milano disse que, além das reuniões em Curitiba, membros do consórcio e representantes da ONU que participam da COP8 vão visitar a reserva de Salto Morato, no litoral do Paraná, um dos programas mais relevantes da Fundação. Localizada na Mata Atlântica, a área de 2.340 hectares adquirida pela Fundação O Boticário foi a primeira reserva natural privada a ser considerada pela Unesco como parte de um Sítio do Patrimônio Natural da Humanidade. Em dez anos, a organização informou ter aplicado US$ 2,3 milhões na área. Atualmente, uma outra reserva desse nível começa a ser estruturada no Cerrado. Segundo Milano, já foram adquiridos 9 mil hectares na Serra do Tombador (MT), que devem ser abertos para o público em até dois anos.

Além da COP8, o Boticário patrocina a reunião ministerial que terá a participação de 150 autoridades máximas na área de meio ambiente dos países signatários da Convenção sobre Diversidade Biológica. Esse encontro vai se dar no centro de convenções Embratel Convention Center, controlado pelo grupo paranaense.

A Fundação O Boticário fica hoje com 80% das receitas destinadas à responsabilidade social pelo grupo, que direciona para essas áreas 1% do seu faturamento industrial líquido. A verba da fundação para este ano é de R$ 4 milhões, volume que Milano espera dobrar com apoio de parceiros. Em 15 anos de existência, a organização apoiou 1.018 projetos, que envolvem recursos de US$ 6,3 milhões.
(GM, 23/03/06)

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