Indicador avalia desempenho de multinacionais na proteção da biodiversidade
2006-03-23
Não bastasse o barulho das ongs, agora são os próprios acionistas das companhias multinacionais que as pressionam a adotar práticas mais sustentáveis em relação aos impactos de suas atividades sobre a biodiversidade.
Um indicador lançado em 2004 por uma das principais administradoras de ativos do Reino Unido, a Insight Investment, parece estar levando petrolíferas, mineradoras e empresas de serviços essenciais a melhorar seus processos de gerenciamento de riscos à biodiversidade. Ligada ao Grupo HBOS, o quinto maior banco do Reino Unido, a Insight administra 88,7 bilhões de libras esterlinas em ativos e tem como política estimular as companhias a adotar elevados padrões em questões sociais, ambientais e éticas.
Os resultados do levantamento feito em 2005 foi apresentado na terça-feira à noite no Expo Trade, de Pinhais (PR), em uma reunião paralela à 8ª Conferência das Partes da Convenção da Diversidade Biológica (COP8), organizada conjuntamente pela Iniciativa de Finanças do PNUMA (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente). A pontuação média das 36 companhias avaliadas em 2005 alcançou 56% (numa escala de 1% a 100%, que avalia a performance em biodiversidade), oito pontos percentuais acima da média de 48% obtida em 2004 pelas 22 empresas acompanhadas naquele ano.
No grupo que obteve média superior a 66%, estão empresas mineradoras como Rio Tinto, Anglo American, BHP Billiton e Alcoa, e petrolíferas como BP e Shell. Elas formam no indicador da Insight a categoria de companhias que gerenciam ativamente os riscos de suas atividades à biodiversidade. Com pior avaliação, abaixo de 33%, ficaram companhias como a Alcan, do setor de alumínio, e o Grupo Suez, que atua no setor de água e saneamento.
“Não é comum que as companhias tenham um item específico sobre biodiversidade em suas avaliações de impacto ambiental”, comenta Kerry ten Kate, diretora da Insight. Segundo ela, as empresas têm sido alertadas sobre o problema.
Embora a tendência seja de melhoria gradual no comportamento ambiental das companhias, o indicador de biodiversidade da Insight também revelou algumas preocupações. Há, por exemplo, muita publicidade de empresas em torno de um ou dois de seus projetos, que podem ser principalmente baseados mais em filantropia corporativa do que num sistema de avaliação de risco e resposta.
Outro problema detectado é que muitas das declarações das empresas para informar seu compromisso com o meio ambiente são vagas e abertas, com referências a melhorar a conservação ou “apoiar a preservação da biodiversidade”.
“Essa não é uma nova questão para a Shell. Mas temos que melhorar nossas ferramentas de administração para lidar com os riscos à biodiversidade”, disse Derilic Quaile, assessor da Shell para o tema. “Na indústria não há muitos indicadores sobre o assunto. Também não temos Planos de Ação sobre Biodiversidade específicos para o nosso setor.”
“Hoje sofremos pressões dos acionistas, de ONGs, do Banco Mundial e da mídia”, afirmou Andrew Parsons, diretor de programa do Conselho Internacional sobre Mineração e Metais, sediado em Londres, entidade que congrega os grandes grupos do setor. Para ele, o envolvimento do setor de mineração nesse tipo de indicador “é muito importante porque nossa atividade tem um grande impacto potencial sobre a biodiversidade, na água, nos solos, nas florestas”.
Parsons destacou também que há grandes oportunidades para fazer uma contribuição positiva para a biodiversidade “quando, por exemplo, reabilitamos uma área minerada”.
Por José Alberto Gonçalves, Assessoria de Imprensa COP8/MOP3