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2006-03-23
Por Geraldo Hasse
A ação da Via Campesina, no dia 8 de março, na Aracruz, nos leva a 1999, quando ativistas anti-globalização de todo mundo promoveram protestos em encontro da OMC (Organização Mundial do Comércio), em Seattle (Estados Unidos). Mais recente e mais próximo, o ataque liderado por José Bové, em 2001, contra uma plantação transgênica da Monsanto, em Não-Me-Toque (RS), continha os mesmos elementos: militantes reunidos em busca de um mundo melhor, sem transnacionais daninhas.

Agora, durante a Conferência da FAO sobre Reforma Agrária, em Porto Alegre, que mais uma vez reuniu simpatizantes de uma nova proposta de desenvolvimento, ocorreu mais uma manifestação, dessa vez contra o agronegócio, o capital financeiro e a devastação do meio ambiente, como explicaram os defensores do ato de Barra do Ribeiro, onde a Aracruz mantém um viveiro e um laboratório de clonagem de mudas de eucalipto. Mas se quis ser espetacular como o Greenpeace, a Via Campesina se equivocou.

O argumento segundo o qual é preciso priorizar a produção de alimentos, pois "ninguém come papel", é primário, pois não faltam alimentos no mundo, enquanto escasseiam as árvores, que demoram muito mais do que as lavouras anuais para chegar ao ponto de colheita. Se há pessoas sem comer, é por problemas de concentração de riqueza... É burrice atacar as fábricas de papel, mercadoria chave da civilização humana.

As papeleiras estão migrando do Hemisfério Norte para o Hemisfério Sul porque aqui as árvores crescem muito mais rápido do que lá, barateando sua matéria-prima; além disso, há outros fatores em jogo, entre eles o ativismo e a legislação ambiental (mais rigorosos lá), o custo da terra (mais barato aqui) e o custo da mão-de-obra (mais caro lá).

O ataque em Barra do Ribeiro até faz sentido dentro da campanha contra o "deserto verde" (muito ativa no Espírito Santo, onde nasceu a Aracruz), mas é realmente um tiro no pé para a campanha pela reforma agrária, muito ativa e contestada no Rio Grande do Sul, berço da luta dos sem-terra (o movimento original nasceu em 1956 em Encruzilhada do Sul).

Essa ação, aliás, é muito suspeita pelo seu caráter extemporâneo, inusitado e contraditório. Apesar da explicação do líder dos sem-terra, João Pedro Stédile, de que "o alvo não é mais o latifúndio, mas o capital financeiro", a depredação não se torna defensável, já que a prática da violência é contraproducente para uma campanha justa em si.

Campesinas e proletárias urbanas escondendo o rosto no dia internacional da mulher? Não é demais pensar que elas podem ter servido como massa de manobra para radicais de esquerda e de direita presentes nos movimentos sociais e interessados em tumultuar o jogo, especialmente agora em ano eleitoral. Também é verdade que hoje, por uma cesta básica, as pessoas fazem qualquer coisa, tal o nível de desigualdade e carência dos estratos mais excluídos da população.

Ao mesmo tempo, esse ato contra a Aracruz coloca um grande ponto de interrogação no projeto governamental que prioriza a silvicultura na Metade Sul do RS, como se plantar árvores madeireiras garantisse a redenção da crise econômica desse território. Para o bem ou para o mal, o ataque à Aracruz radicaliza um debate até aqui civilizado.

Quanto às relações do governo com as grandes empresas, é bom lembrar que a população desconfia dos governantes que estendem tapete vermelho para investidores. Há precedentes. Não sem motivo, o senso comum do brasileiro se acostumou a identificar maracutaias nos bastidores desses encontros. O comportamento da mídia, submissa ao marketing desses grandes players, ajuda a criar um ambiente de desconfiança.

No Rio Grande do Sul, até agora, a Aracruz fez questão de jogar "limpo", dizendo, por exemplo, que deseja ser bem vinda, não quer “arrombar a porta”. Estará a Aracruz-RS sendo vítima de um "jogo sujo" (uma conspiração) por parte da concorrência, que se aproveita da vulnerabilidade da Aracruz-ES, acuada por ambientalistas, índios e quilombolas do Leste Brasileiro? Sabendo como jogam pesado os players globais, a hipótese não é descabida, nem pode ser descartada, até que tudo seja esclarecido.
* Geraldo Hasse é jornalista, colaborador do Ambiente Já e Jornal Já.

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