Gripe aviária é problema econômico, sustenta pesquisador gaúcho
2006-03-23
A ocorrência da gripe do frango ou gripe aviária, que já está ocorrendo em países da Ásia e atingindo a Europa, pode ser considerada "muito mais um problema da economia dos países mais pobres que uma questão de saúde pública". A informação é do diretor internacional de programas do Sabin Vaccine Institute, com sede em Washington, o médico e pesquisador gaúcho Ciro A. de Quadros, reconhecido como uma das maiores autoridades mundiais em epidemiologia. Ele veio a Porto Alegre para receber, ontem de manhã, o título de Doutor Honoris Causa da FFFCMPA, onde concluiu seu curso há 40 anos e integrou a primeira turma de formandos.
Quadros diz que "não há motivos para alarme, porque existe uma Rede Mundial de Vigilância Epidemiológica" muito atenta ao menor indício de desenvolvimento do vírus H5N1 para mutação e transmissão entre humanos, "o que até hoje não aconteceu". Conforme o pesquisador, que é responsável pelo planejamento geral e direcionamento técnico dos programas internacionais do Sabin Vaccine Institute, o ponto positivo no surgimento dessa epidemiologia generalizada no setor aviário é o fato de o problema ter colocado em alerta os países, inclusive com a injeção de maiores volumes de recursos para pesquisa e modernização de seus laboratórios. "No momento em que o vírus com transmissão entre humanos surgir, se surgir, há condições de controle", disse.
Quadros garante que, se houver uma mutação do vírus, no primeiro momento há condições de acompanhar a seqüência viral, detectar o novo vírus e produzir vacina para combatê-lo. A Rede Mundial de Vigilância Epidemiológica acompanhará o seqüenciamento em qualquer pessoa. Para Quadros, a população se confunde pelas notícias alarmantes, mas ele assegura que o problema é mais econômico para os países atingidos e resultou na melhora da vigilância.
"Se chegar a ocorrer, já há estudos e produção de vacinas mais potentes. Como há vigilância, a vacina e o isolamento não permitirão que aconteça uma pandemia como a gripe espanhola, em 1918. As condições de vida e o avanço científico e tecnológico hoje não permitirão a repetição de uma situação como aquela, ocorrida em meio a uma guerra, momento propício para contaminação." Quadros admite que a gripe aviária deverá chegar a todos os continentes, mas já há condições de combatê-la.
(CP, 23/03/06)