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2006-03-22
Derretimento de geleiras nos pólos Norte e Sul do planeta e em grandes montanhas como o Kilimanjaro, na África; mudanças nos regimes de chuvas e safras; enchentes e secas extremas. Todos estes são fenômenos típicos das mais conhecidas vilãs ambientais do momento, as mudanças climáticas globais, que ameaçam a sobrevivência de economias e culturas, além de várias espécies de animais e de plantas.

Devido à alterações no funcionamento de ecossistemas e biomas inteiros, o assunto tornou-se obrigatório na 8ª Conferência das Partes da Convenção sobre Diversidade Biológica (COP8).

Para alertar os quase duzentos países-membros da Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB) sobre os meios adequados de enfrentar as incertezas do clima, está prevista para a próxima segunda-feira, durante a COP8, realizada em Pinhais (PR), região metropolitana de Curitiba, a apresentação de um relatório elaborado por cientistas de instituições públicas e privadas e de organizações não-governamentais de todo o globo.

O trabalho será uma espécie de guia para que cada país veja a biodiversidade como uma aliada no combate às mudanças climáticas, explicou Manuel Guariguata, especialista em mudanças do clima da CDB. Segundo ele, não há duvidas de que o aquecimento global esteja acontecendo graças a ações humanas, como a poluição de fábricas e automóveis. “Centenas de artigos cientificos mostram isso de forma clara e tornam evidentes os impactos sobre animais e plantas”, ressaltou.

E é justamente em áreas onde o homem tenta minimizar os estragos de suas ações que o bom uso da biodiversidade pode fazer a diferença. Conforme Guariguata, países-membros da CDB têm sido estimulados a não usarem a monocultura florestal (plantio de uma só espécie) como uma arma contra as mudanças climáticas. A plantação de árvores retira CO2 da atmosfera, gás considerado o principal causador do aquecimento global. O ideal seriam plantações de florestas com a maior variedade possível de espécies.

Conforme Guariguata, um dos destaques do relatório será mostrar que ambientes bem preservados e ricos em espécies são mais resistentes a mudanças climáticas. No fim de 2004, zonas da costa cobertas por bosques e mangues sofreram menos com a tsunami do que áreas desmatadas em países como Indonésia, Ilhas Maldivas, Índia e Sri Lanka. “Comunidades costeiras com grandes conhecimentos tradicionais fugiram mais rápido da onda. Isso também é biodiversidade”, observou o venezuelano.

Esse tema é de extrema importância para o Brasil, país rico em diversidade biológica, e que também sofre os efeitos das mudanças climáticas. De acordo com Carlos Nobre, doutor em meteorologia e coordenador-geral do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos do Inpe (Instituto Nacional de Pesqusias Espaciais) partes da Amazônia podem se transformar em Cerrado caso as mudanças climáticas se intensifiquem nos próximos anos. “A política atual de preservação ainda leva isso em consideração”, disse.

Para Nobre, que também é coordenador do LBA (Experimento de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera da Amazônia), a mais abrangente pesquisa do ecossistema da Amazônia, a extinção de espécies que tem se acelerado nos últimos cem anos é normalmente atribuída à redução de habitats, ao desmatamento e ao avanço desregrado da agricultura. Agora, segundo ele, é preciso observar mais um elemento: as mudanças climáticas. “Se o clima global continuar aquecendo, também crescerá a extinção de espécies”, afirmou.

De acordo com o pesquisador, é necessário mais cooperação entre os países e as convenções das Nações Unidas sobre mudanças climáticas e biodiversidade. Isso tornaria mais eficientes as ações contra o aquecimento global. “Não há dúvida de que a temperatura planetária está subindo. Quanto antes as relações entre mudanças climáticas e biodiversidade chegaram à pauta global, melhor”, ressaltou.
Por Aldem Bourscheit, Assessoria de Imprensa COP8/MOP3

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