Água: racionalizar para não faltar
2006-03-22
Por Carlos Lemos da Costa
Hoje (22/03) comemora-se o Dia Internacional da Água, com poucos motivos para festas.
Não temos políticas globais de incentivo ao uso racional da água e as
iniciativas existentes são pontuais e, em geral, temporárias. Exemplo dessa
postura errática foi a adotada pelo governo paulista em 2005, quando, premido
pela estiagem prolongada, ofereceu desconto de 20% no valor da conta mensal aos
que conseguissem permanecer abaixo da média de consumo dos seis meses anteriores.
Embora bem-sucedida, a campanha foi abandonada assim que a seca terminou.
Esse método é negativo porque passa a mensagem de que somente em períodos de
seca é que se deve economizar. Das águas da Terra, apenas 2,5% são doces e,
destas, mais de dois terços não estão disponíveis para consumo humano. O Brasil
detém cerca de 13% da água doce disponível no mundo, mas mais da metade (54%)
desse total na Amazônia e na bacia do rio Tocantins, onde está a menor população
por quilômetro quadrado do País.
O modelo permanente de racionalização envolve medidas governamentais de
incentivo à economia e ao uso racional da água e foi adotado por cidades
norte-americanas, como Nova York e Austin, no Texas, com grande sucesso. A
implantação foi por etapas, com adesão voluntária de redução do consumo que,
depois, ofereciam incentivos aos cidadãos para trocar, por exemplo, bacias
sanitárias desperdiçadoras por outras, mais econômicas. Havia multas para quem
não aderisse.
Assim, Nova York conseguiu instalar mais de um milhão de bacias sanitárias
economizadoras (1994 e 1996), com o programa que atingiu quase todas as camadas
da população: a prefeitura reembolsava as despesas dos moradores e empresários
locais com a troca de bacias. A iniciativa poupou 60 milhões de galões/dia, ou
216 milhões de litros de água e o investimento se pagou em quatro meses.
Somente trocar bacias e torneiras não resolve. A troca deve ser feita por
especialistas para evitar que, por falta de regulagem adequada, os usuários
gastem até mais água do que antes, por "acharem" que a quantidade de água
liberada não é suficiente.
Um programa de uso racional da água é mais duradouro do que campanhas
publicitárias ou programas eventuais porque obtém resultados permanentes ao se
estimular a troca de bacias sanitárias antigas muito desperdiçadoras – consomem
entre 12 litros e 18 litros por acionamento – pelas economizadoras, que gastam
seis litros por acionamento. É o que a sociedade brasileira espera de seus
governantes: olhar estrategicamente para o futuro e implantar programas
permanentes de uso racional da água.
* Carlos Lemos da Costa é engenheiro civil e diretor da H2C Consultoria
(GM, 22/03/06)