Diversificação exige mais usinas nucleares, diz especialista
2006-03-22
Especialista diz que Brasil deve investir mais em energia nuclear A necessidade de diversificação da matriz energética justifica a construção de novas usinas nucleares no Brasil. Essa é a avaliação do diretor de novas instalações do Instituto de Energia Nuclear, dos Estados Unidos, Adrian Heymer. "O Brasil é um país que está crescendo, por isso precisa de mais energia. Mesmo com recursos naturais para usinas hidrelétricas, é bom ter fontes diversificadas", diz Heymer.
Na sua opinião, mesmo com o custo mais elevado da energia nuclear, comparado com a gerada pelas usinas hidrelétricas, é importante ter uma matriz diversificada para se resguardar de flutuações no sistema de chuvas, por exemplo.
Heymer cita como exemplo a China, onde a energia nuclear, que hoje representa apenas 2% do total, deverá dobrar para 4% com a construção de 40 nova usinas nos próximos 20 anos.
Isso apesar de o país estar construindo em Três Gargantas a maior usina hidrelétrica do mundo. "Eles estão fazendo isso porque reconhecem que precisam de diversidade", afirmou Heymer.
O especialista afirma que essa tendência de diversificação está se verificando agora nos Estados Unidos, depois que o país passou a depender basicamente de combustíveis fósseis a partir de meados dos anos 80.
A última usina nuclear construída nos Estados Unidos começou a operar em 1994. Depois de várias mudanças na legislação de licenças de funcionamento, com o aumento da segurança, os projetos voltaram e hoje 19 estão em andamento, com a primeira usina programada para entrar em operação em 2014.
Com a ausência de novas usinas, a parcela de energia nuclear nos Estados Unidos caiu de 22,5% em 1995, para 19,9% em 2004, de acordo com a Associação Nuclear Mundial. Heymer diz que essa proporção deve continuar a cair nos próximos 10 a 15 anos, até chegar a cerca de 15% e depois voltar ao nível atual.
No mesmo período, de acordo com a Associação americana, a parcela de energia nuclear no Brasil passou de 1% para 3% no mesmo período.
"Tolerância zero"
O ministro da Ciência e Tecnologia, Sério Rezende, disse neste mês, em entrevista à BBC Brasil, que o plano nuclear prevê a construção de mais sete usinas nos próximos 10 a 15 anos. No dia seguinte, tanto o presidente Luiz Inácio Lula da Silva como o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, se esforçaram para dizer que as novas usinas ainda não estão aprovadas.
Adrian Heymer diz que é preciso tratar a energia nuclear "com o maior respeito" e que os projetos precisam ter "tolerância zero" contra erros desde o início. "É preciso ter pessoal altamente treinado, buscando a perfeição, reconhecendo a importância da qualidade", afirmou.
O co-diretor do Instituto de Energias Alternativas, David Oakes, diz que o Brasil "não deveria imitar os Estados Unidos", mas estabelecer sua própria liderança em energias alternativas.
"Seria inteligente para o Brasil olhar para dentro do país e buscar aumentar a geração de energia interna e se tornar menos dependente de energia importada", afirmou Oakes.
"Talvez energia nuclear seja uma fonte viável", diz. "Mas eu diria que o Brasil pode se tornar um líder em produção de energias alternativas: por exemplo o Brasil pode assumir um papel de liderança em energia hidrica, eólica, solar, biowaste, geotérmica, energia das marés, biomassa, hidrogênio", afirma.
Ele concorda que é melhor diversificar. "É melhor ter uma política energética com uma variedade de fontes, para não ficar dependente de apenas uma."
(BBC Brasil, 20/03/06)