Ricos criam o colonialismo verde
2006-03-22
Quando o milionário Johan Eliasch decide ir para sua casa de campo no fim de semana, tem de viajar mais do que a maior parte das pessoas. Depois de sair do escritório, no bairro de Mayfair, em Londres, são 12 horas por ar e terra antes de ver o terreno de 161.874 hectares no coração da floresta amazônica. A propriedade tem o tamanho da área metropolitana de Londres.
Eliasch, de 43 anos, banqueiro, produtor de cinema e executivo-chefe da empresa de equipamentos esportivos Head, comprou a terra de uma madeireira para proteger as plantas e a vida selvagem. Membro dos altos escalões do Partido Conservador, ele faz parte de uma tendência crescente de "colonialismo verde". Os novos colonizadores compram vastas porções de terra nos países pobres e em desenvolvimento ou alugam os direitos de madeireiras para impedir que as árvores sejam cortadas. É uma revolução nos métodos que caracterizaram o movimento de conservação internacional nos últimos 50 anos.
A abordagem tradicional consistia em convencer os governos de países em desenvolvimento a criar parques e reservas. Agora, pessoas e organizações estão assumindo responsabilidade direta pela terra. Eliasch, cuja fortuna é estimada em US$ 623 milhões, teria pago US$ 14 milhões pelo seu parque selvagem no Brasil.
"A Amazônia é o pulmão do mundo", diz ele. "Fornece 20% do oxigênio e 30% da água."
SEGURADORAS
Eliasch está fazendo lobby com as empresas de seguros para que sigam seu exemplo. "Na teoria, pode-se talvez comprar a Amazônia por US$ 50 bilhões", calcula. "Um furacão como o Katrina custaria às seguradoras uma quantia semelhante em indenizações. Pode-se estabelecer uma correlação direta entre corte de árvores e aquecimento global que leva a desastres como o Katrina."
Ele está fazendo campanha para que conservacionistas recebam créditos pela preservação de árvores, semelhantes aos bônus pagos a madeireiras por plantar mudas. Vai usar o dinheiro para comprar mais floresta.
Eliasch também tem convidado cientistas - para pesquisar vida selvagem e plantas com extratos benéficos à medicina - ao seu próprio pedaço da Amazônia.
(O Estado de S. Paulo, 21/03/06)