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2006-03-22
Tão agressiva quanto a destruição do Cerrado é a perda econômica e ecológica em conseqüência do sumiço de boa parte da biodiversidade. Mesmo tímidas e pontuais, pesquisas científicas encontram novas espécies da flora e da fauna do Cerrado a cada trabalho de campo. Por um lado, mostram a riqueza do mosaico do bioma. Por outro, revelam o desaparecimento de espécies que nem chegaram a ser catalogadas ou estudadas. Perder sem conhecer não significa apenas um grave problema ecológico.

As atenções do meio científico se voltam para o problema econômico: enquanto os rendimentos em 1 hectare de soja no ambiente de Cerrado não ultrapassam R$ 2 mil (no melhor momento da monocultura), 1 hectare da vegetação em pé pode valer R$ 4 mil, levando-se em conta o extrativismo sustentável e o potencial para novas descobertas pela ciência.

A estimativa de que áreas conservadas de Cerrado valem, no mínimo, duas vezes mais que o bioma devastado é feita por pesquisadores da Embrapa Cerrados, unidade da Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias. A julgar pelas sucessivas descobertas, catalogações e estudos do bioma, mesmo num cenário de ininterrupto desmatamento e falta de incentivos à pesquisa, a tendência é a biodiversidade ser cada vez mais valorizada. Do Cerrado estão surgindo informações científicas que alimentam herbários em todo o País. E a difusão do conhecimento representa um ganho de qualidade de vida das comunidades locais.

Há um consenso entre os pesquisadores quanto ao potencial acumulado da biodiversidade do Cerrado. Alguns estimam que de 10% a 20% das espécies da flora e da fauna são desconhecidos. Outros acreditam em até 70%. Parte considerável dos estudiosos, porém, prefere não arriscar uma estimativa, diante da riqueza de sua biodiversidade. Também é imensurável o potencial de descobertas de propriedades ou de variações de espécies bastante populares.

Há poucas semanas, pesquisadores da Universidade de Brasília (UnB) concluíram um estudo que revelou a riqueza de zinco no baru, fruto típico cuja castanha é comestível. No Mato Grosso, comunidades locais não conseguiram impedir o desmatamento de pequizeiros que forneciam um fruto sem espinhos. Uma raridade num momento em que o Cerrado agoniza.

Conforme uma estimativa considerada otimista, feita pela organização Conservação Internacional, resta 34% do Cerrado. Cento e setenta e três municípios goianos (do total de 246) têm menos de 35% de vegetação nativa remanescente, segundo levantamento da Universidade Federal de Goiás e da Secretaria Estadual do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Semarh).

As recentes descobertas e catalogações de espécies são a principal prova de que a biodiversidade do Cerrado ainda é significativamente desconhecida. Mesmo com as pesquisas caminhando em passo bem mais lento que o da destruição, a identificação e o estudo de paisagens, da flora e da fauna são rotineiros. O POPULAR fez um levantamento das últimas descobertas nos principais centros de pesquisa do Centro-Oeste e nas comunidades locais.

Ao mesmo tempo em que revelam suas descobertas, pesquisadores e moradores de regiões ainda preservadas preocupam-se com uma realidade: as populações das espécies nativas estão diminuindo radicalmente. Durante o trabalho de campo do projeto Conservação e Manejo da Biodiversidade do Cerrado, que visa descobrir quantas espécies existem no bioma, a equipe da Embrapa Cerrados foi informada de que havia chegado tarde à região de Canarana (MT). Perdeu a oportunidade de colher um pequi que não tem espinhos. Os pequizeiros, identificados pelo agricultor Édemo Correa em 2000, não resistiram ao desmatamento. Resta apenas uma pequena área na Bacia do Xingu e de difícil acesso.

A perda de biodiversidade antes mesmo de conhecida é um dos temas da 8ª Conferência entre as Partes (COP 8) da Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB), que começa hoje em Curitiba (PR) e prossegue até o dia 31.
(O Popular-GO, 20/03/06)

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