Brasil quer classificar 90% das “espécies nacionais” até 2015
2006-03-21
Pesquisadores responsáveis pela taxonomia das espécies brasileiras afirmaram nesta segunda-feira (20/03), durante a 8ª Conferência das Partes da Convenção sobre Diversidade Biológica (COP8) que o Brasil ainda está muito aquém do que seria ideal na nomeação e classificação dos seus animais e vegetais. A taxonomia é a ciência responsável pela descrição dos organismos vivos, fundamental para a preservação da biodiversidade e um dos principais temas desta Convenção.
Para acelerar o processo, o Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) lançou ontem dois programas para incentivar a pesquisa e auxiliar na formação de recursos humanos ideais. O objetivo é descrever os 20% da biodiversidade mundial que está presente no Brasil. A meta é organizar todas as espécies presentes em coleções biológicas – como as representadas pelos herbários de instituições públicas de pesquisa – até 2015.
Realizada em parceria com sociedades científicas, a Estratégia Nacional de Coleções Biológicas é um dos programas que diagnostica a capacitação de recursos humanos e da infra-estrutura de pesquisa para a taxonomia zoológica, botânica e microbiológica no país. O documento propõe metas para aprimorar a taxonomia em um prazo de três a dez anos.
Já o Programa de Taxonomia pretende formar, no prazo de sete anos, 60 doutores em taxonomia e suprir a necessidade de cientistas na área. “O desafio da exploração da natureza de forma sustentável nos colocou numa posição nunca vista em toda história do desenvolvimento brasileiro e é por isso que precisamos de estrutura e recursos humanos para não ter que conhecer nossa riqueza biológica apenas nos museus de outros países”, resumiu o secretário executivo do Ministério da Ciência e Tecnologia, Luís Fernandes.
As metas do MCT vão desde um sistema de digitalização das informações recolhidas até a classificação de 90% das espécies conhecidas no prazo de dez anos. “Temos a expectativa de encontrar mais 12 mil espécies, apenas na área da botânica”, salienta a pesquisadora da Universidade Federal da Paraíba e representante da Sociedade Brasileira de Botânica na COP8, Maria Regina Barbosa, ao lembrar que o Brasil já possui identificada 60 mil espécies.
Abaixo, Maria Regina e Luciane Marinoni, da Sociedade Brasileira de Zoologia, falam sobre o estágio atual e as perspectivas da taxionomia brasileira.
Em que estágio o Brasil se encontra na classificação das suas espécies?
Luciane Marinoni - Existe uma conscientização da necessidade do conhecimento da biodiversidade do Brasil, mas ainda estamos muito atrás do que seria ideal. Com este projeto, planejamos organizar a sociedade científica e o governo para resolver o que chamamos de “impedimento taxonômico”, ou seja, o fato de que não se pode chegar a nenhum objetivo da Convenção sobre Biodiversidade – como, por exemplo, a redução das perdas - se não se conhece a biodiversidade do País. O Brasil tem cerca de 20% da biodiversidade mundial, mas não se conhece um quinto deste percentual. Nós temos mais espécies depositadas em museus internacionais do que se conhece aqui.
O que está se fazendo para resgatar essas informações?
LM - O Brasil passou a fazer parte neste ano da Iniciativa Global de Taxonomia, um programa da Convenção de Biodiversidade que trata desse conhecimento básico e incentiva as coleções biológicas – a maioria em instituições públicas de pesquisa - que por sua vez asseguram conhecimento sobre aquelas espécies que tiveram seus ambientes degradados. O programa Diretrizes e Estratégias para Desenvolvimento de Coleções Biológicas traça, inclusive com previsão de custos, as etapas para organizar as informações que estão nas coleções, num primeiro instante, e nos ambientes naturais.
O que o país está fazendo para catalogar todas as suas espécies?
Maria Regina Barbosa - Há muitos anos estamos trabalhando para criar uma rede de herbários brasileiros, levantando suas situações, dificuldades e, em paralelo, implementando um projeto que chamamos de “Flora do Brasil”, que pretende catalogar todas as espécies que estão ao alcance no menor tempo possível .
Os pesquisadores têm uma estimativa de quantas espécies botânicas o Brasil possui?
MRB - Cerca de 60 mil supostamente identificadas. Ocorre que ninguém cruzou os dados e listou quais plantas são e onde estão. Hoje nós estamos apresentando a primeira listagem de plantas organizadas para uma região que é a Nordeste. Dos 60 mil estimados para o Brasil, esta região possui 8 mil devidamente listadas. O número é 20% maior que a nossa previsão antes dos trabalhos e estimamos que isso também ocorra na pesquisa nacional.
Rodrigo Morosini, Assessoria de Imprensa COP8/MOP3