Cientistas querem que GEF invista US$ 100 milhões em taxonomia
2006-03-21
Cientistas ligados à Iniciativa Global de Taxonomia estão propondo que o GEF (Global Environment Facility) aplique cerca de US$ 100 milhões nos próximos dez anos em treinamento e implantação de infra-estrutura de pesquisa para o estudo, descrição e classificação de espécies vivas.
A cifra representa quase o dobro do que o GEF - um fundo mundial dos países ricos para projetos ambientais - investiu nos últimos dez anos em projetos de pesquisa da biodiversidade com forte ênfase em taxonomia, que é a área da ciência que se dedica a descrever espécies vivas, abrangendo animais, plantas e microorganismos, como fungos.
Para Christoph Häuser, coordenador do grupo de assessoramento do Secretariado da CDB (Convenção da Diversidade Biológica) para a GTI (sigla em inglês para Iniciativa Global de Taxonomia), seria bem-vinda uma declaração da COP8 (8ª Conferência das Partes da Convenção sobre Diversidade Biológica) pedindo um aumento substancial dos recursos para taxonomia. Para isso, é necessário que se alcance um consenso entre as 188 partes que integram a CDB, condição obrigatória para a aprovação de quaisquer documentos.
A busca de recursos para a taxonomia não é tarefa fácil, dado o amplo leque de temas e programas de trabalho da CDB, que competem acirradamente entre si pelo dinheiro do GEF.
Assunto do Grupo de Trabalho 1 da COP8, a GTI, lançada em 2002, tem a meta de inserir até 2012 em uma lista de fácil acesso as cerca de 1,7 milhões de espécies já descritas, de um total estimado entre 5 milhões e 50 milhões. Como explica Häuser, a lista será um instrumento essencial para a conservação da biodiversidade e o uso sustentável dos recursos naturais.
A relação é importante para eliminar repetições de espécies descritas como distintas em diferentes partes do mundo por falta de comunicação entre os pesquisadores. Há também espécies descritas, mas desconhecidas em grande parte do planeta, problema que seria contornado caso elas fossem introduzidas na lista internacional de espécies.
“Hoje o Brasil pode ser atingido por pragas vindas da África por navio, por exemplo, que são desconhecidas pelos especialistas brasileiros. Se o País não conta com especialistas para identificar as espécies daqueles insetos, não tomará as medidas corretas para prevenir a praga, ou mesmo poderá não tomar qualquer ação”, ilustra Häuser, assinalando a importância da taxonomia para a prevenção de doenças, o aumento da produtividade agrícola e a remediação de efeitos das mudanças climáticas.
A GTI também pretende produzir uma lista mundial das espécies guardadas em museus, herbários e jardins botânicos, com a informação de sua origem. É importante lembrar, também, que o conhecimento taxonômico é ferramenta indispensável para a implementação de ações nas várias áreas temáticas da CDB, como as águas marinhas, costeiras e continentais, florestas, terras áridas e sub-úmidas e biodiversidade agrícola.
José Alberto Gonçalves, Assessoria de Imprensa COP8/MOP3