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mar de aral escassez de água
2006-03-21

“Não poderemos salvar o Aral e em pouco tempo só o veremos em fotografias”, lamenta o pintor uzbeko Rafael Matevosyan, cuja obra há mais de 40 anos testemunha o desaparecimento deste mar na Ásia central. O Aral é um mar interior localizado entre o Cazaquistão e o Uzbequistão que vem secando há 50 anos. Matevosyan, de 82 anos, chegou à região em 1962, e desde então dedicou dezenas de quadros ao mar. Naqueles anos, o Aral era o quarto maior dos mares internos, depois do Cáspio, entre Europa e Ásia; o lago Superior, na América do Norte, e o lago Victoria, na África.

O Aral começou a secar na década de 60 por causa da atividade humana. Eram extraídas grandes quantidades de água para irrigação das plantações de algodão que abasteciam a gigantesca produção industrial da então União Soviética, da qual o Uzbequistão fazia parte. Hoje, seu volume de água diminuiu 90%, para 115 milhões de metros cúbicos, e sua superfície caiu 73%, para 17.600 quilômetros quadrados. De fato, acabou se dividindo em dois grandes lagos chamados Aral Sul e Aral Norte. Milhares de hectares do que era mar agora formam o novo deserto de Aralkum. Diariamente, o vento joga cerca de 75 milhões de toneladas de pó, areia e sal desde o deserto, que vão sendo depositadas na terra em um raio de mil quilômetros.

“Os quadros de Matevosyan são a crônica da tragédia do Aral”, disse o poeta e jornalista uzbeko Raim Farhadi. Em seus primeiros quadros o artista pintava as águas profundas e as pescarias, nos mais recentes mostra barcos abandonados no que agora é terra firme. Apenas dois anos depois de chegar à região Matevosyan notou que o mar encolhia. Um de seus quadros representa uma indústria de pescado na cidade de Moynaq, na parte ocidental do Uzbequistão, que já foi um centro industrial de pesca e produtos enlatados. A fábrica ficava sobre estacas no mar. Mais tarde, descobriu essas estacas cravadas em terra firme e o estabelecimento abandonado.

Matevosyan nasceu na cidade uzbeka de Samarkand, mas seus pais se mudaram para Baku, capital do Azerbaijão, na costa do mar Cáspio. Durante 30 anos viveu ali e pintou o Cáspio, bem com o mar Negro, um lago interno do sudeste da Europa e da Ásia menor ligado ao mediterrâneo pelo estreito de Bósforo e o mar de Mármara. O artista se graduou no Colégio de Arte de Baku. Farhadi considera que Matevosyan é um cronista da tragédia do homem e do meio ambiente, sentindo os “corpos” da terra e da água. “Na medida em que o mar vai secando deixa um novo deserto que produz tempestades de areia e sal”, disse o pintor em uma entrevista. “A terra que está ao redor do mar está coberta por sal e produtos químicos tóxicos que ficam na atmosfera e se espalham pelas zonas vizinhas”, contou.

Estão desaparecendo as plantas e os animais, e o pescado agora é trazido do mar Báltico, a milhares de quilômetros de distância. “Quem vive ali sofre da falta de água e das doenças que isso acarreta”, acrescentou. A população próxima do Aral apresenta altos índices de câncer e doenças pulmonares, entre outras. Matevosyan não é otimista. “Os rios Amu Darya e Syr Darya (que alimentam o Aral) percorrem o território de seis países da Ásia central (Afeganistão, Cazaquistão, Quirguistão, Tajaquistão, Turcomenistão e Uzbequistão) e cada um extrai toda a água que pode. Se todos retirarem um balde de água de um barril, este ficará vazio”, afirmou.

Até a década de 60, estes rios vertiam 58 bilhões de metros cúbicos de água no Aral por ano. Mas em meados dos anos 80, pelo uso mais intenso da água para irrigação, esse caudal diminuiu drasticamente. Além disso, o mar perde por ano entre 30 bilhões e 35 bilhões de metros cúbicos de água devido à evaporação. O consumo anual de água recomendado na bacia do Aral não deve exceder 80 quilômetros cúbicos, mas na verdade são consumidos cerca de 102 quilômetros cúbicos por ano. “Os fundos e organizações que querem ajudar a deter o desastre do Aral não podem fazer muita coisa”, disse Matevosyan. “Recebem muito dinheiro do Ocidente e o utilizam. Mas ao mesmo tempo, essa conjuntura pode ser vantajosa para os ocidentais que querem estar presentes na região”, acrescentou.

Matevosyan acredita que seus quadros ajudam a arrecadar fundos para as populações próximas do Aral. O artista realiza exposições nas repúblicas da extinta União Soviética e na Alemanha, Turquia, Estados Unidos e na ex-Iugoslávia. Também escreveu um livro sobre seu trabalho intitulado “O homem e o mar”. Matevosyan é um homem idoso, magro, quase sempre com uma boina na cabeça. Está casado com uma mulher 23 anos mais nova, tem três filhas e um filho de dois casamentos diferentes, quatro netos e três bisnetos. Além dos mares, em seus trabalhos aparecem pescadores, médicos, policiais e belas mulheres. As telas de Matevosyan refletem o estado do dia; os contornos e cores dependem da luz. Prefere o realismo, por ser “mais perdurável”.

Por Marina Koslova - Escrito para o projeto Asia Water Wire, uma série de artigos sobre água e desenvolvimento da região Ásia-Pacífico da IPS.
(Envolverde, 17/03/06)
http://www.envolverde.com.br/materia.php?cod=14952&edt=34


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