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2006-03-21
Se a água é mesmo a homenageada dessa semana – já que seu Dia Mundial é 22 de março –, nada melhor do que discutir como preservar essa preciosa fonte de vida. Pelo menos dois eventos que começam hoje (21/03) e amanhã em Porto Alegre abordam a educação para a valorização dos recursos hídricos através de uma análise de conceitos que, cada vez mais, mostram-se questionáveis.

“O brasileiro tem uma noção muito equivocada de abundância, e não se dá conta de que grande parte da água está comprometida”, afirma o diretor-executivo da Organização Não-governamental Rios Vivos, Alcides Faria. De acordo com ele, o país é vítima da “cultura do desperdício”, em que não há cuidado com os recursos hídricos no meio rural, com a agricultura, e muito menos nas cidades, onde faltam investimentos em setores estratégicos como encanamento, por exemplo. Os números são mesmo alarmantes: 40% do total captado é perdido antes de chegar às torneiras.

Problemática ainda reside na conscientização
A conscientização se revela mesmo um problema quando se lida com o assunto. “As pessoas olham para o Guaíba, vêem aquela água e pensam que essa história de recurso finito é conversa das empresas”, destaca o engenheiro e superintendente de Ações do Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae), Valdir Flores.

A relação entre quantidade e qualidade da água é ressaltada pela bióloga e pesquisadora da Fundação de Zoobotânica do Rio Grande do Sul, Luiza Chomenko. A especialista lembra que, embora pareça desnecessária a preocupação com os recursos hídricos, apenas 2,6% da água do planeta é doce, e boa parte já não pode ser consumida por causa da poluição. “O maior afluente do rio Guaíba é o Jacuí, que carrega uma quantidade muito grande de agrotóxicos das produções agrícolas”, exemplifica.

O efeito desses poluentes na água se reflete na biodiversidade aquática. Tornam-se comum, assim, explosões ou reduções populacionais de espécies. Os porto-alegrenses vêm sentindo o fenômeno sem sair de casa, pois as alterações de gosto e odor na água são causadas por algas, que surgem no verão e cuja presença se pode observar melhor devido à estiagem.

A melhor forma de educação ambiental, segundo Luiza, é apostar na ética. “O pensamento das pessoas está errado, é egoísta. Se o jornal mostra uma notícia sobre racionamento em Bagé, ninguém se importa se for morador de Porto Alegre. Vai lavar o carro na mesma hora. Se não mora lá, acredita que não tem com o que se preocupar. Ainda pensa que o problema é deles ”, condena.

A falta de valorização do local também está, de acordo com a bióloga, na raiz da problemática. “Todo mundo conhece o Pantanal e os animais em extinção da Amazônia, mas as pessoas daqui não sabem citar uma espécie nativa do Estado”, destaca. “O sistema só mudará quando o ser humano entender que tudo é um ciclo e que todas as ações têm seus reflexos”, conclui.

Porto Alegre tem programação educativa
A abertura oficial da Semana da Água e da Cultura, em Porto Alegre, será realizada hoje (21/03) no Memorial do Rio Grande do Sul, a partir das 18h, em uma parceria da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco) com 33 entidades, entre elas a Secretaria Estadual de Meio Ambiente (Sema).

Embora aberta ao público, o maior alvo da Semana são os professores das redes municipal e estadual de ensino, de forma a que possam levar os conhecimentos adquiridos para a sala de aula. Entre as atividades previstas estão uma exposição de banners informativos, mesas-redondas, uma exposição fotográfica da Bacia do Jacuí e “maquetes vivas” de rios poluídos e despoluídos. Haverá, ainda, passeios monitorados de barco pelo rio Guaíba, com saída do Cais do Porto.

Após o dia 31, fim das comemorações, a Unesco produzirá um caderno juntamente com o Núcleo de Ecojornalistas do Rio Grande do Sul, com um resumo de todas as discussões e conclusões dos debates. A publicação servirá como base para o trabalho dos professores sobre a problemática. De acordo com a Unesco, o ano de 2006 é estratégico dentro da década 2005-2015 (considerada a Década da Água), porque pretende discutir a forma como os recursos hídricos são percebidos no cotidiano e de como a cultura pode influenciar na relação entre a água e os seres humanos.

Já a Associação Brasileira de Engenharia Sanitária do Rio Grande do Sul (Abes-RS) trará a Porto Alegre no dia 22/03 (quarta-feira) o especialista Albert F. Appleton, da Yale Law School, que ministrará a palestra “A Sustentabilidade da Produção de Águas nos Mananciais: a experiência de Nova York e os desafios do Rio Grande do Sul”. Appleton é funcionário sênior na Associação de Planos Regionais (RPA), em Nova York, e trabalha com a execução de políticas ambientais públicas. O evento, que tem apoio da Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan) e a Amcham (Câmara Americana de Comércio), ocorre às 8h30min no Amcham Business Center, na avenida Mostardeiro, 322.
Por Patrícia Benvenuti

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