O dilema entre desenvolvimento e meio ambiente não poderia ser mais evidente em Itaboraí, município que deverá sediar o pólo petroquímico programado para ser implantado no Estado do Rio pela Petrobras, com parceiros privados. Para que o empreendimento transforme o atual quadro de pobreza e carência social da cidade em riqueza, precisará levar em consideração a fragilidade ambiental da área, que compõe a última grande extensão de manguezal preservado do estado e é considerada o pulmão da Baía de Guanabara.
Uma verdadeira batalha se anuncia. O local cogitado para a implantação do complexo, entre Manilha e Itambi, é extensão do manguezal que forma a Área de Proteção Ambiental (APA) de Guapimirim e a recém-criada Estação Ecológica da Guanabara.
— Se o projeto for confirmado, o Ibama terá que se pronunciar. Dependendo do local exato, como tem poder supletivo e é executor da política nacional do meio ambiente, pode até vetar — informou o chefe da APA de Guapimirim do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Breno Herrera.
Até quem faz oposição política apóia o projeto
O técnico do Ibama ressalta que se o projeto for levado adiante, deverá considerar, principalmente, o impacto da operação industrial sobre os efluentes lançados nos rios da região, que deságuam na Baía de Guanabara.
Na última sexta-feira, Herrera convocou reunião extraordinária do Conselho Gestor formado por representantes — secretários de meio ambiente, associações de moradores, universidades e organizações não-governamentais — dos quatro municípios que compõem a APA: Itaboraí, Magé, Guapimirim e São Gonçalo.
— A manifestação do conselho será considerada no processo de licenciamento, para assegurar a participação comunitária em sua aceitação ou reprovação — acrescentou.
Na cidade, não há oposição ao projeto, só apoios: do presidente da Câmara, Marcelo Lopes (PC do B); do vereador do PFL Alzenir Santana; do presidente do Sindicato da Indústria Cerâmica do Estado do Rio, Edézio Gonzalez Menon; da presidente da Câmara dos Dirigentes Lojistas, Alair Vieira Melo; e até do padre local. Todos destacam vantagens para o desenvolvimento local.
Os catadores de caranguejos Adílson Ribeiro Gonçalves e Barnabé Almeida acreditam não ter chances de emprego no pólo (que terá uma refinaria petroquímica e unidades industriais), mas têm esperanças de oportunidades para os filhos.
— Tenho 35 anos, minha vida inteira no mangue. Não vou conseguir emprego (no pólo).
Fora da cidade, porém, os ambientalistas se preocupam. Rubens Almeida Recio destaca a importância do manguezal para a vida que ainda resta na Baía de Guanabara. O professor da UFRJ Elmo da Silva Amador, integrante do Movimento Baía Viva, diz que a baía está saturada e não suportaria mais uma fonte de degradação.
Radiografia da cidade
DISTÂNCIA DO RIO: 45 km
ÁREA TOTAL: 424,2 km2
POPULAÇÃO: 215 mil habitantes
RECEITA TOTAL EM 2005: R$ 137 milhões
FOLHA DE PAGAMENTO: 45% da receita própria do município
REDE DE ÁGUA E ESGOTO: 60% da população
MORTALIDADE INFANTIL: 15,6 crianças por mil nascidas vivas
IDH: 46º entre os 92 municípios do estado
MEIO AMBIENTE: Compõe a Área de Proteção Ambiental (APA) de Guapimirim — formada também por Magé, São Gonçalo e Guapimirim — e a Estação Ecológica da Guanabara, com 172 espécies de aves registradas e animais em extinção, como o jacaré-de-papo amarelo.
(O Globo, 20/03/06)