ONU relata que apoio mundial ao gerenciamento privado da água diminui
2006-03-21
Durante mais de uma década a idéia de que companhias privadas são capazes de levar água para os pobres do mundo foi um mantra para as políticas desenvolvimentistas promovidas pelas agências de empréstimos internacionais e por muitos governos. Não é o que aconteceu. Na última década, de acordo com um grupo de fornecimento de água particular, as companhias privadas conseguiram ampliar seus serviços para apenas 10 milhões de pessoas, menos de 1% daqueles que precisam do serviço. Cerca de 1.1 bilhão de pessoas ainda não têm acesso à água tratada, afirmam as Nações Unidas.
A realidade por trás desses números está afundando. No Quarto Fórum Mundial da Água, uma conferência de seis dias realizada aqui pela indústria, governos e organizações não governamentais, há pouca negociação para privatização. Ao invés disso muitas pessoas aqui querem voltar a se apoiar nas facilidades públicas, que ainda suprem 90% da água para as casas que têm rede encanada. Há uma “grande mudança” no tom, disse David Boys, especialista em política de água pela federação do trabalho de Serviços Sociais Internacional.
Boys é membro de um painel conselheiro apontado pelo secretário geral da ONU, Kofi Annan, que apresentou suas recomendações no fórum, pedindo inicialmente um fortalecimento das facilidades públicas. “As companhias perderam toneladas de dinheiro e respeito”, disse Boys. Um tumulto na cidade de Cochabamba há cinco anos prejudicou uma subsidiária da companhia americana Bechtel, depois de aumentar os índices mas não conseguir melhorar os serviços.
“A solução para a comunidade é se envolver no gerenciamento do fornecimento de água”, disse Pablo Sólon, conselheiro econômico do governo. Uma em cada três pessoas no mundo, 2.6 bilhões, não tem acesso a qualquer tipo de latrina ou vaso sanitário, de aordo com um relatório da ONU que será apresentado na conferência na terça-feira (21/03). Doenças relacionadas a água não tratada causam mais de 3 milhões de mortes por ano, na maioria entre crianças de até 5 anos. Apenas US$ 3 bilhões em ajuda por ano são destinadas a melhorias no acesso de água e esgoto encanado, diz o Relatório de de Desenvolvimento da Água Mundial da ONU, e pouco disso chega às pessoas que mais precisam.
(The New York Times, 20/03/06)
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