Nova missão do Everest vai limpar lixo deixado por alpinistas
2006-03-21
O neozelandês Edmund Hillary entrou para a história como o primeiro aventureiro a alcançar o topo do Everest – o mais alto do mundo, com uma altitude de 8.850 metros. Lá se vão 53 anos dessa proeza e, desde então, pelo menos 2.249 “visitantes” já escalaram suas encostas. Agora chegou a vez da escalada do sul-coreano Han Wang-yong. E ele vai com uma missão especial: limpar o Everest do lixo e dos cacarecos deixados em suas terras por outros alpinistas “farofeiros”. Cientistas, expedicionários e turistas de todas as partes do planeta abandonam ali parte do equipamento que levam, coisas que são vitais na subida, mas se tornam tranqueiras desnecessárias na descida. Isso rendeu ao Everest o título pouco lisonjeiro de “o lixão mais elevado do mundo”. Encravada na fronteira entre o Tibete, a China e o Nepal, a montanha se transformou em reservatório a céu aberto para latas de comida, cilindros de oxigênio, garrafas de água e de suco, cordas, tendas, roupas, tênis, papéis, plásticos e baterias. Calcula-se que suas encostas geladas abriguem cerca de 50 toneladas de resíduos. Agora, pela segunda vez, uma expedição de Wang-yong vai limpar o Everest. Liderada por ele, sua equipe reúne alpinistas do Japão, da França, da Itália e da Áustria. A partir de abril, esses garis das alturas enfrentarão o frio e as tempestades de vento que ultrapassam 100 quilômetros por hora para retirar, pelo menos, cinco toneladas de lixo.
Estatística: em um ano foram vendidos 379 mil pacotes turísticos com destino ao Everest
O trajeto foi preparado com cuidado. A equipe escalará a face sul do Everest, onde se sabe que estão acumuladas algumas barracas de acampamento e roupas largadas pelos aventureiros. Sem ter absolutamente nada a ver com o que, aqui, se está chamando de lixo dos alpinistas, nesse ponto do Everest também há tristeza: trata-se dos corpos de aventureiros que não resistiram às intempéries e ali morreram. Especialistas dizem que é quase impossível para uma equipe trazer de volta o corpo de um companheiro morto. E um dos motivos é que, no gelo, ele pesa mais do que pesaria a sua estátua feita em bronze e em tamanho natural. Estima-se que há 180 corpos. “Vamos tentar descer os corpos. Mas o nosso principal objetivo é coletar as tendas, os tanques de oxigênio e as embalagens plásticas”, diz Wang-yong. Experiência é o que não falta para esse montanhista que já escalou oito picos no Nepal, cinco no Paquistão e um no Tibet. Em 1995, quando subiu o Everest para sua primeira missão cata-lixo, Wang-yong se disse impressionado com o desleixo de seus colegas: “A maioria deles só queria mesmo escalar um trecho da montanha e depois descer.” Como se fosse passeio num feriadão prolongado.
Segundo o alpinista brasileiro Rodrigo Raineri, que também enfrentou o gelo nas alturas, “a situação já foi muito pior”. Hoje a consciência das pessoas melhorou e há a exigência das autoridades do Nepal que obriga os montanhistas a cuidar do ambiente e trazer de volta o seu lixo – o que não é sempre cumprido. No dia 27 de março, Raineri tenta uma nova escalada ao Everest sem usar tubos extras de oxigênio, aventura que fará em companhia do parceiro Vitor Negrete. Wang-yong não é o primeiro nem será o último a recolher os dejetos do Everest. Há três anos, uma equipe de 53 montanhistas escalou 14 picos numa missão de limpeza. Mas o problema persiste porque aumenta o fluxo de turistas e alpinistas amadores: somente em 2004 foram vendidos 379 mil pacotes turísticos com destino ao Everest.
(Isto É, 22/03/06)
http://www.terra.com.br/istoe/1900/ciencia/1900_nova_missao_do_everest.htm