Ministério Público pode intervir em caso de arroio em Rio Grande
2006-03-20
Em audiência pública turbulenta na quinta-feira (16/03) à tarde na Câmara
Municipal de Rio Grande, a América Latina Logística (ALL) não se mostrou
inclinada a encontrar uma solução que resolva o problema sobre a ponte
ferroviária que passa pelo Arroio das Cabeças. A solução, apontada pelo perito
do Ministério Público, engenheiro Diniz Maciel, seria a retirada das pedras que
reforçam a ponte ou a colocação de três bueiros - de um metro cada - , para que
a vazão da água pelo local seja maior. Entretanto, o representante da empresa,
José Antônio Colla, afirmou que a ALL não tem culpa pelo problema e que só
entrará em acordo com o Ministério Público (MP), se a Corsan também dividir os
custos da obra. "Faremos o que for necessário desde que a ALL seja a causadora
disso. O laudo do MP mostra que depois da construção da adutora pela Corsan, o
volume de água que vai para o Arroio cresceu 50%. Por isso, só faremos algo se a
companhia de saneamento também participar da obra e dividir a responsabilidade",
enfatizou.
A posição do integrante da empresa deixou vereadores presentes e comunidade
revoltados. "Sabemos que os tempos são outros e que o trem e o peso da carga
mudaram nesses últimos 100 anos. Mas quem mudou a estrutura inicial da ponte foi
a ALL e é de responsabilidade da mesma reverter a situação", disse o presidente
do Legislativo, Cláudio Diaz (PSDB). O vereador Charles Saraiva (PMDB), autor do
pedido de audiência pública, ficou revoltado e, inclusive, ameaçou deixar o
plenário antes mesmo do encerramento da audiência. "Está claro que a ALL não tem
interesse em ajudar os moradores da Quinta. Além disso, está tentando
transferir sua responsabilidade à Corsan só porque esta se colocou à disposição
para firmar parcerias em prol deste problema". Para o promotor de Justiça
Especializada, Francisco Simões Pires, a empresa "nunca teve o ato de delicadeza
em responder à Promotoria para prestar esclarecimentos ou tomar uma posição
quanto à solução do Arroio". Comentou ainda que a Corsan não é a responsável
pelo problema, e se colocou à disposição para uma futura parceria com a
Prefeitura quanto à remoção das famílias que moram em área de risco. "Houve um
estrangulamento da vazão de água sob a ponte. Isso ocorreu por causa da empresa
ferroviária que deve contornar a situação", disse. Pires também afirmou que o
MP irá reestudar a proposta de acordo entre os envolvidos, mas não acredita no
interesse da ALL em resolver a questão. "O próximo passo do MP será entrar com
uma ação contra a empresa pela segurança e saúde das famílias da vila da Quinta",
diz.
Sem um posicionamento definitivo, o perito do MP faz um alerta: "A comunidade
vai ter que rezar, pois a próxima chuva passará pelo arroio com mais força ainda,
pois agora ele está limpo. É preciso um planejamento habitacional para retirar
o pessoal que mora junto à ponte", relatou.
Comunidade da Quinta
A comunidade da vila da Quinta se fez presente na audiência e também estava
representada pela presidente da Associação de Moradores, Viviane Fontoura, que
se disse satisfeita com o cumprimento das ações pela Prefeitura. Por outro lado,
ela mostrou-se revoltada com o posicionamento da ALL que tenta fugir da
responsabilidade. "Esta empresa não tem nenhum interesse em nos auxiliar nem em
exercer sua responsabilidade social. Em reuniões que contaram com a presença da
imprensa, Colla se mostrou interessado em contornar o problema. Mas quando os
encontros eram realizados a portas fechadas, sua posição era totalmente
contrária, dizendo que a ALL não tinha responsabilidade e nem iria fazer as
alterações necessárias na ponte", denunciou. Segundo ela, com a proximidade do
inverno e os períodos de chuva, a comunidade está apreensiva e com medo de mais
uma vez ser atingida por enchentes. "Tem dias que não conseguimos sair de casa
nem para trabalhar devido ao grande volume de água arrastado para a vila da
Quinta", conta.
Providências necessárias
Entre as providências necessárias apontadas pelo MP, somente algumas que cabem
à Prefeitura foram iniciadas. O secretário municipal de Obras e Viação, Jardel
Branco, lembrou que a primeira etapa da limpeza no Arroio já foi concluída
faltando, apenas, a limpeza entre a ponte até o Saco do Justino.
O perito do MP apontou ainda a colocação de vegetação ao longo do Arroio, já
que com a limpeza a água seguirá com mais força e poderá arrastar, ocasionando
desmoronamentos em alguns barrancos - ação que deverá ser realizada pela
Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SMMA) nos próximos dias; a remoção das
91 famílias que se encontram em local proibido e de preservação ambiental -
dito por Jardel Branco como uma ação futura já que, no momento, não há orçamento
e nem área habitacional disponível para a remoção ("mas assumimos nossa
responsabilidade"); além da construção de um desvio da água, diminuindo assim o
volume que cai no Arroio das Cabeças. "Para isso será necessário um novo
direcionamento da água, com novas travessias que acompanharão o canal adutor da
Corsan em direção ao Arroio das Barrancas", explicou. De acordo com ele, a
Prefeitura possui este orçamento mas as obras ainda não começaram porque o
trajeto passa por dentro de propriedades onde alguns pecuaristas e agricultores
acham que, se for mudado o percurso da água, suas produções serão afetadas.
Mas passado este impasse, Jardim diz que a Smov pretende efetuar as mudanças o
mais rápido possível.
(Jornal Agora, 17/03/06)