Cientistas querem que serviços ambientais financiem Convenção da Biodiversidade
2006-03-20
O baixo grau de implementação da Convenção sobre Diversidade Biológica virou uma das maiores preocupações dos cientistas envolvidos em pesquisas sobre a biodiversidade. Alguns já discutem idéias que possam tirar a Convenção sobre Diversidade Biológica (CBD) do impasse. A CBD é considerada o maior acordo mundial já feito em torno de uma questão ambiental, com a adesão de 188 partes (187 países mais a União Européia).
Para o pesquisador alemão Christoph Häuser, do Museu de História Natural de Stuttgart, na Alemanha, e coordenador de um grupo de assessoramento do Secretariado da CDB para a Iniciativa Global de Taxonomia, é hora de começar a pensar em um esquema global de remuneração pelos serviços ambientais prestados pelos ecossistemas, com impacto tão forte quanto os mecanismos do Protocolo de Quioto.
Entre os serviços ambientais, podem ser lembrados a produção de água, o equilíbrio climático e a conservação de paisagens. Häuser, que diz não saber ainda como o esquema poderia funcionar, é cético quanto à proposta de repartição de benefícios gerados pelo acesso aos recursos genéticos, um dos três principais objetivos da CDB, aprovada na Rio-92.
“É um mecanismo tão limitado e difícil para implementar que levaria anos para se tornar realidade, com um retorno financeiro muito pequeno”, disse Häuser, que está em Curitiba participando do seminário “Biodiversidade – A Megaciência em Foco”, evento associado à COP8 promovido pela Sociedade Brasileira Para o Progresso da Ciência (SBPC), outras associações científicas nacionais e 40 internacionais.
Para o pesquisador Carlos Brandão, do Museu de Zoologia da USP, de São Paulo, o princípio da repartição dos benefícios é louvável, mas difícil de ser operado. Segundo ele, o conhecimento tradicional sobre o uso de determinada substância extraída de uma planta ou de um animal para curar uma doença, por exemplo, muitas vezes está presente em diferentes etnias indígenas.
“Nesse caso, com quem os benefícios seriam repartidos?”, comenta Brandão, que também participa do seminário dos cientistas. Talvez, diz o pesquisador, os benefícios poderiam ser remetidos a um fundo nacional para aplicação em projetos de conservação da biodiversidade e apoio às comunidades tradicionais.
José Alberto Gonçalves, Assessoria de Imprensa COP8/MOP3