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2006-03-20
A Índia suprirá parcialmente sua necessidade de combustível nuclear, graças à venda de urânio russo anunciado na sexta-feira (17/03) em Nova Délhi, à espera de que entre em vigor o esperado acordo com os Estados Unidos. A Índia destinará 60 toneladas de urânio russo às centrais nucleares de Tarapur, que estavam sem combustível, informa a agência local "PTI".

Ao agradecer pelo acordo, o primeiro-ministro da Índia, Manmohan Singh, expressou na sexta a vontade de aumentar em curto prazo a cooperação no âmbito nuclear civil com a Rússia. A Rússia e a Índia chegaram ao acordo apesar da rejeição que a idéia gerou em Washington, que recomendou à Índia cumprir as condições do acordo recentemente alcançado com os Estados Unidos para ter acesso a combustível nuclear.

A Índia respondeu que a venda será feita sob a cláusula de exceção de segurança estabelecida pelas normas do grupo de países fornecedores de energia atômica. Esta cláusula permite a venda caso as centrais fiquem sem urânio, por causa do perigo que representa para a segurança dos reatores ficar sem combustível. Os EUA se recusaram a vender urânio à Índia, após alegar que as centrais de Tarapur ainda não haviam sido abertas a inspeções internacionais.

Em outras vezes, quando o material nuclear das usinas de Tarapur acabara, a Rússia ou a França forneceram combustível aos reatores. O acordo para fornecer 60 toneladas de urânio russo à Índia foi selado hoje por Singh e pelo primeiro-ministro russo, Mikhail Fradkov, em visita oficial a Nova Délhi.

Singh expressou sua confiança de que os dois países expandirão sua cooperação no campo da energia nuclear civil, já que prevêem "um aumento considerável na cota de energia nuclear" em relação às produzidas por outras fontes. A Índia tem 14 reatores nucleares que produzem energia nuclear para fins civis, mas a energia elétrica fornecida por estas centrais representa apenas 3% do consumo nacional.

No entanto, o Governo indiano espera que, até 2050, 25% da energia consumida neste país seja de origem nuclear. Em meio a um processo de abertura econômica e de rápido crescimento, a Índia está ávida por energia, e por isso iniciou vários projetos para suprir esta necessidade. A Índia assinou com os EUA há algumas semanas um acordo pelo qual receberá tecnologia nuclear civil, incluindo reatores e combustível, em troca de separar suas centrais nucleares em dois grupos: as que têm finalidade civil e as que têm função militar.

Bush enviou na quinta-feira (16/03) o acordo ao Congresso americano, onde encontrou relativa oposição de alguns parlamentares, que querem mais informações sobre o acordo antes de dar a aprovação.Seus críticos argumentam que premiar com tecnologia um país não signatário do Tratado de Não-Proliferação Nuclear (TNP) pode estimular outras nações a iniciar programas nucleares.
O Paquistão - segundo as palavras de seu ministro das Relações Exteriores, Kursheed Kasuri - reclamou que seu país não recebeu o mesmo tratamento que a Índia por parte dos EUA. Em entrevista publicada hoje, Kasuri disse que, quando o acordo entre Índia e EUA for aprovado definitivamente, "o Tratado de Não-Proliferação Nuclear estará acabado".

Em sua recente visita a Islamabad, Bush negou o pedido do presidente paquistanês, general Pervez Musharraf, de conceder a mesma cooperação oferecida à Índia, e alegou que "são países com histórias diferentes e necessidades diferentes". O primeiro-ministro australiano, John Howard, que visitou a Índia recentemente, afirmou hoje que seu país não venderá urânio a Nova Délhi seguindo sua política de não fornecer urânio aos países não signatários do TNP.

No entanto, Howard informou que a Austrália, que tem 40% das reservas mundiais de urânio, enviará uma equipe de cientistas à Índia para mais investigações sobre o acordo entre Índia e EUA no âmbito nuclear. A Índia, que além das 14 centrais nucleares civis mantém outras 9 em construção, não tem grandes reservas de urânio, mas espera que seus grandes depósitos de tório - também usado como combustível nuclear -, que representam 25% do total mundial, sirvam para alimentar sua rede de reatores.
(EFE, 17/03/06)
http://noticias.uol.com.br/ultnot/efe/2006/03/17/ult1808u61018.jhtm

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