África Subsaariana não aproveita recursos hídricos, diz estudo
2006-03-20
A África Subsaariana, que conta com um grande volume de recursos hídricos renováveis não utilizados, não tem infra-estrutura para levar água a milhões de pessoas, revela um estudo apresentado no domingo (19/03) no 4º Fórum Mundial da Água. Esta região da África formada por 53 países utiliza apenas 3,8% do total de sua água doce. A maior parte do recurso disponível desemboca no mar ou se perde em zonas desérticas.
A advertência está incluída no relatório do Conselho Mundial da Água (WWC, na sigla em inglês) sobre a África, apresentado neste domingo e que destaca que 300 milhões de africanos já sofrem os efeitos da falta de água potável. As áreas mais ricas em água são as regiões ocidental e central do subcontinente. Mas os níveis pluviométricos (de distribuição de chuva) variam muito e essas regiões alternam o sofrimento com a seca e com enchentes, gerando grande prejuízo nos últimos anos.
"Existe um enorme potencial em termos de abastecimento de água, energia hidrelétrica, pesca, navegação e irrigação", aponta o relatório, que também ressalta que "o desenvolvimento dos recursos hídricos na África exige um manejo inovador que considere os recursos não explorados". A médio prazo, a má gestão é o grande risco para 22 países africanos que estão entre as 24 nações do mundo com escassez hídrica. Os governos da região terão de se empenhar para criar organismos de manejo mais eficientes.
Em um discurso no 4º Fórum Mundial da Água, o secretário-geral da União de Cidades e Governos Locais da África (UCGLA), Jean Pierre M´Bassi, afirmou que, neste continente, "todos estão debatendo a conveniência de transferir as decisões sobre a água para o âmbito local". O motivo é que "causa preocupação a capacidade dos governos de conduzir investimentos privados", justificou, ao contrário das autoridades locais, que precisam do aval da sociedade civil para serem eleitas.
O diretor da Divisão de Desenvolvimento Sustentável da Comissão Econômica das Nações Unidas para a África, Josué Dioné, reforça que é preciso construir infra-estrutura de irrigação, represas e caixas d´água. As prioridades são as represas de armazenamento, sistemas de coleta de água, obras de irrigação e novas hidrelétricas. A escassez de água do continente vem piorando por causa da crescente pressão demográfica, da expansão urbanística e do desenvolvimento econômico, afirma o WWC.
O relatório sugere a dessalinização como opção para a região superar seus problemas de escassez, e destaca que, na Argélia, há um plano para construir 11 usinas no litoral, que produzirão 1,2 milhão de metros cúbicos de água em 2009. A maioria dos países africanos não investiu suficientemente em infra-estrutura e no reforço das instituições, o que é necessário para aplacar as inundações e secas na região que concentra quase um terço das catástrofes relacionadas à água no mundo.
Para que a África possa cumprir as metas que a União Africana fixou para 2025 em matéria de água, precisará de um investimento anual de US$ 20 bilhões.
As Metas de Desenvolvimento do Milênio ligados à água (erradicação da pobreza extrema e da fome, redução da mortalidade infantil e garantia da sustentabilidade ambiental) estão cada vez mais distantes. Sete países(Etiópia, Guiné-Bissau, Libéria, Moçambique, Níger e Somália) não avançaram até agora em nenhuma delas. O relatório alerta também que a África pode precisar de até US$ 4,7 bilhões por ano para tirar mais de 200 milhões de pessoas da desnutrição. Assim, em 2015, cerca de 20 mil hectares de terra contariam com irrigação para garantir a alimentação local.
(EFE, 19/03/06)
http://www.estadao.com.br/ciencia/noticias/2006/mar/19/119.htm