Autoridade russa lamenta falta de estratégia internacional em crise nuclear
2006-03-20
O ministro russo de Exteriores, Sergei Lavrov, lamenta que não haja uma estratégia internacional para resolver a disputa sobre o programa nuclear do Irã, criticando as propostas para que o Conselho de Segurança da ONU imponha prazos à Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA). Em entrevista ao "Financial Times" publicada na sexta-feira (17/03), Lavrov questiona os planos de Estados Unidos, França e Reino Unido para que o Conselho de Segurança peça à AIEA que informe sobre o controvertido programa de Teerã em 14 dias, uma data-limite que "não é muito factível".
Segundo o jornal britânico, os comentários de Lavrov sugerem que os EUA terão dificuldades para conseguir o apoio do Conselho de Segurança para a adoção de sanções que obriguem o Irã a suspender o enriquecimento de urânio e permitir uma maior vigilância da AIEA. Para Lavrov, se o Conselho de Segurança da ONU pedir a Teerã que coopere com a AIEA não deveria assumir o controle de todos os detalhes do caso iraniano.
Isso criaria um ambiente "altamente político" que tornaria mais difícil para o organismo nuclear a realização do trabalho técnico de verificar o alcance do programa nuclear clandestino de Teerã. Lavrov alertou que, nesse caso, haveria um paralelismo com a Guerra do Iraque, iniciada em 2003, em referência à intervenção do Conselho de Segurança antes de os inspetores de armas terminarem seu trabalho de inspeção.
O ministro russo admitiu não ter certeza se o organismo da ONU conseguirá unanimidade em relação ao caso iraniano. "Tudo depende das propostas específicas que serão analisadas no Conselho de Segurança e, dada a falta de estratégia, não sei realmente que tipo de propostas haveria", disse. "Por exemplo, quando a delegação dos EUA sugere que o Conselho deve pedir um relatório em 14 dias, eu suponho que seria de se esperar que tenha algo em mente para a discussão programada para dentro de 15 dias", acrescentou.
"Mas eu não fui informado nem nossa delegação foi informada sobre se existem esses planos", especificou o ministro.
No entanto, Lavrov deixou claro que o Irã deve cumprir suas obrigações internacionais e disse que a não-proliferação nuclear é umas das prioridades de Moscou. "Não aprovo o que a parte iraniana está fazendo. Uma declaração tão arrogante (de Teerã) não ajuda a criar uma atmosfera necessária para que a AIEA termine seu trabalho", ressaltou.
(EFE, 17/03/06)
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