Fazendeiro que destruiu 1 000 hectares de mata amazônica usa picape para atropelar ambientalistas
2006-03-20
A audácia e a criatividade nas manifestações em defesa do meio ambiente
são características do Greenpeace. Na semana passada, um grupo de
cinqüenta ativistas da organização viajou cinco horas por estradas de
terra para estender sobre uma área de floresta recém-desmatada uma faixa
de dimensões inusitadas: quadrada, com 50 metros de lado, ocupava uma
extensão de 2.500 metros quadrados. Com os dizeres "100% crime", imitava
o selo normalmente colado sobre caixas usadas para exportação. Tratou-se
de um duplo protesto. O primeiro, contra o desmatamento propriamente
dito. No início de janeiro, imagens de satélite revelaram uma área de
1000 hectares, ou mais de sessenta estádios de futebol, recém-aberta na
Floresta Amazônica a 120 quilômetros da cidade de Santarém, no Pará. O
segundo foi contra o plantio de soja, que o Greenpeace considera
inadequado à região amazônica. "Não achamos certo acabar com a Amazônia
para produzir comida de vaca", diz Paulo Adário, coordenador do
Greenpeace na Amazônia.
Técnicos do Ibama foram ao local desmatado e constataram outro crime
ambiental: a destruição de mais de 1.000 castanheiras, árvores que
chegam a atingir 60 metros de altura e cujo corte é proibido. O Ibama
responsabilizou pelo desmatamento o presidente da Associação dos
Produtores Agrícolas de Santarém, José Donizetti de Oliveira, e o multou
em 1,5 milhão de reais. No ano passado, ele já tinha sido autuado pelo
desmatamento sem autorização de 650 hectares para o cultivo de grãos na
mesma região. Irritado com a manifestação do Greenpeace, Oliveira
avançou com sua picape contra a faixa, até deixá-la em frangalhos. A
foto aérea desse momento de fúria foi feita pelo fotógrafo do Greenpeace. "O
mais espantoso é que a área desmatada não é
propriedade de Donizetti, mas da União", diz Pedro Aquino,
superintendente regional do Instituto Nacional de Colonização e Reforma
Agrária (Incra). O Incra trabalha num projeto de transformação da área
rica em castanheira numa reserva extrativista. Precisará se apressar,
pois corre o risco de não sobrar floresta alguma em Santarém.
Ontem, o empresário saiu algemado da sede da Associação de Produtores Agroindustriais de Santarém. (Veja, Diario Catarinense
13/03/06)