Professor sugere associação dos eucaliptos com agricultura familiar
2006-03-20
O cultivo de árvores como o eucalipto para produção de celulose e madeira deveria estar associado às propriedades rurais ligadas à agricultura familiar, em vez de ocupar grandes áreas de propriedade de empresas do setor.
Essa é a avaliação do engenheiro florestal Luiz Fernando Schettino, professor do Departamento de Ecologia e Recursos Naturais da Universidade Federal do Espírito Santo. "Se você fizer isso, a polêmica acaba", diz ele.
Nos últimos dias, movimentos sociais ligados à rede internacional Via Campesina têm realizado protestos contra o chamado "deserto verde". No dia 8 de março, uma unidade de pesquisa da empresa Aracruz foi destruída em Barra do Ribeiro (RS).
"Escolheram o eucalipto para vilão", lamenta Schettino. Para ele, as áreas de reflorestamento são hoje importantes até mesmo para que se reduza a pressão sobre as matas nativas. "O que precisamos é de um modelo que desenvolva as propriedades rurais, que dê sustentabilidade ao meio rural."
No Espírito Santo, a luta dos movimentos sociais contra as florestas de eucalipto é mais antiga: a Rede Contra o Deserto Verde foi criada em 1992. No estado, as plantações ocupam 250 mil hectares.
Ali, segundo o pesquisador, foram cometidos abusos no passado, como a derrubada de mata nativa para liberar áreas para o reflorestamento, nos anos 60, ou o plantio de variedades de eucalipto de raiz pivotante (que penetra profundamente no solo, podendo prejudicar lençóis freáticos) perto de nascentes ou cursos d´água.
"Foram cometidos erros que hoje não se cometem mais", diz ele. O eucalipto hoje cultivado - os chamados "clones" - não possuiria mais esse tipo de raiz. A Aracruz, presente no Espírito Santo desde os anos 60, teria avançado nesse sentido.
"A empresa tem evoluído nos conceitos ambientais e sociais. Além de gerar impostos, ela apóia projetos sociais e ambientais, inclusive na universidade pública", conta Schettino.
(Agência Brasil, 18/03/06)