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2006-03-20
O impacto ambiental e social causados pelas matrizes energéticas tradicionais, o crescimento incessante do consumo, a escassez dos recursos fósseis e a assinatura do Protocolo de Quioto levam o Brasil a seguir uma tendência mundial de investimentos em fontes alternativas de energia. Além da biomassa, uma opção se destaca pelo seu potencial no país: a energia eólica. Dados do Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente) revelam que o potencial eólico é duas vezes maior que o das hidrelétricas e equivale a 143 GW – quase 50% a mais que a produção atual de energia do país.

“O Brasil segue a tendência mundial e tem criado mecanismos para incentivar o desenvolvimento da energia eólica. Até 2008 o governo pretende dispor de uma capacidade instalada de 1.100 MW”, diz a professora Eliane Amaral Fadigas, do Departamento de Engenharia de Energia e Automação Elétricas da Escola Politécnica da USP.

A professora, responsável pela disciplina “Energia Eólica: Fundamentos e Viabilidade Técnico-Econômica”, na pós-graduação da Poli, explica que o investimento virá do Proinfa (Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia), lançado pelo Governo Federal em 2002. “O programa contempla três modalidades de fontes alternativas: usinas eólicas, pequenas centrais hidrelétricas e centrais termelétricas movidas com biomassa”,diz. No total, o programa investirá R$ 8,6 bilhões, e deverá resultar numa capacidade de 3.300 MW, um terço para cada modalidade.

Cenário mundial

O Brasil possui atualmente, segundo a professora, 30 MW instalados em turbinas eólicas. Estão no litoral do Ceará, no Rio Grande do Norte, Santa Catarina e Paraná. Está em implantação um parque eólico de 150 MW no Rio Grande do Sul. “Ainda é pouco, mas o Proinfa deverá impulsionar o interesse pela energia eólica”, declara.

Hoje no mundo há cerca de 50 GW de potência instalada com turbinas eólicas, segundo a especialista. “Para se ter uma idéia, isso corresponde à metade da capacidade instalada do que o Brasil possui em todos os tipos de usinas para produção de energia”, diz ela. Cerca de 75% deste total de energia eólica é gerada na Europa. O maior produtor é a Alemanha, com 18 GW, seguida pela Espanha, com 10 GW e os Estados Unidos, com 7 GW. Depois vêm a Dinamarca e a Índia.

O grande fator limitante das energias alternativas de modo geral, na opinião de Eliane, é que elas ainda são mais caras que as tradicionais e dependem de incentivos do governo. Os incentivos são feitos tanto em forma de subsídios, quanto de descontos e outros mecanismos. A obrigatoriedade das concessionárias de terem um percentual mínimo de sua produção em energias renováveis também contribui para seu desenvolvimento.

“Precisamos nacionalizar a produção de turbinas eólicas”

“Os incentivos ainda são escassos, mas já tivemos um grande avanço com o Proinfa”, diz Eliane. Com o investimento do programa, explica ela, a holding do setor elétrico – a Eletrobrás – comprará energia produzida pelas vias alternativas e repassará ao mercado com subsídios. O consumidor final terá também um acréscimo para financiar as novas fontes energéticas – com exceção do consumidor de baixa renda.

Além dos subsídios, o governo dará desconto de 50% no transporte de energia para as empresas que a produzirem dentro das três modalidades alternativas. “Os grandes consumidores de energia, como as indústrias e grandes empresas (com demanda de mais de 3 MW), ao contrário dos consumidores residenciais que têm fornecimento exclusivo das concessionárias, podem comprar energia de vários geradores. Uma empresa de São Paulo pode decidir comprar de um fornecedor do Nordeste, por exemplo, pagando o custo de transporte ao governo. Se comprar energia eólica, terá o desconto”, explica.

Além dos incentivos e subsídios, a professora acredita que, para fazer a energia eólica decolar definitivamente, o governo vai precisar investir em pesquisa, no mapeamento do potencial eólico do país e, principalmente, na nacionalização das turbinas eólicas, cuja importação é um dos maiores limitantes. “O Brasil não tem fábrica de turbinas. Só existe no território nacional a Wobben Wind Power, de capital alemão, instalada em Sorocaba, no interior paulista. Este é o ponto de partida para reduzir os custos da energia eólica”.

Centros de excelência
O crescimento do interesse pela energia eólica no Brasil proporcionou a criação de centros de excelência para pesquisar o assunto em várias universidades, segundo Eliane. Equipes especializadas se preocupam em conhecer como se faz o levantamento do potencial econômico, estudam equipamentos aplicados a turbinas e o impacto deste tipo de geração integrado à matriz energética do país.

O custo deste mapeamento é alto, segundo ela, porque as torres meteorológicas utilizadas para medição dos ventos também têm 90% dos componentes importados. “A avaliação do potencial é um fator importante, porque a insuficiência do regime de ventos de determinada localidade é também um fator limitante fundamental”, diz Eliane. Segundo ela, a energia eólica é viável em regiões com ventos acima de 7 metros por segundo em média (equivalente a 25,2 km/h). “Abaixo disso, o fator de capacidade da planta é baixo e o custo, por conseqüência, muito alto. Hoje, o custo por megawatt gerado está em torno de US$ 70 por megawatt”, diz. As máquinas só funcionam a partir de ventos de 3 m/s.

No Brasil, algumas regiões do Nordeste apresentam fator de capacidade em torno de 45%. “Se houver bom potencial no local e uma indústria nacionalizada, a geração eólica é altamente viável. O custo do quilowatt instalado numa turbina eólica (a máquina inteira) está entre mil e 1300 dólares por quilowatt – valor equivalente ao de muitas centrais hidrelétricas, por exemplo”. Apesar do potencial, a pesquisadora acredita que a energia eólica será sempre uma fonte complementar. “O importante é diversificar a matriz energética para não ficarmos dependentes de um recurso único”, pondera.
(Agência USP, 17/03/06)

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