Ex-ativista contesta relatório sobre contaminação transgênica do Greenpeace
2006-03-17
A organização ambientalista Greenpeace apresentou na segunda-feira (13/03), na MOP-3, um relatório denunciando 113 casos de contaminação transgênica nos últimos dez anos, em 39 países. O número de países afetados, diz o Greenpeace, é o dobro dos que permitem oficialmente o cultivo de transgênicos. A importância da denúncia foi minimizada pelo botânico Klaus Ammann, da Universidade de Berna (Suíça). Ele classificou o material de "ultrajante" e de "ridículo". "Temos centenas de milhares de movimentos fronteiriços há anos e não tenho notícia de nenhum incidente ou algum tipo de dano à biodiversidade. O número desse relatório é ridículo, ultrajante mesmo", disse, apontando que o próprio site do Greenpeace indicava 138 casos no meio da tarde em que um boletim era divulgado com 113 casos.
Foi o primeiro embate do dia, afora a saia justa do governo brasileiro com a indefinição sobre a rotulagem dos transgênicos. O botânico acusa o Greenpeace de criar insegurança "sem conhecimento científico". "Quando eles estão errados, temos que combatê-los por deixarem as pessoas inseguras e sem conhecimento científico", disse. Ammann já foi do Greenpeace dos anos 1960 aos 1970. Hoje dirige as ONGs Gene Peace e Africa Harvest Foundation, e defende a convivência de culturas transgênicas com as convencionais.
O ex-ativista também questiona a determinação do Greenpeace de tratar todos os casos de transgenia como "contaminação". Parte dos cientistas defendem a expressão "cruzamento genético". O consultor político do Greenpeace Internacional, Benedikt Haerlin, rebateu, dizendo que as críticas "escondem intenções não claras com jogos semânticos". "Se há um elemento estranho no meu alimento e ele não deveria estar ali, para mim não há outro termo que não contaminação."
O relatório do Greenpeace foi divulgado em parceria com organização GeneWatch, do Reino Unido. Nele, o Brasil é apontado com quatro casos de contaminação em 1998, com a entrada ilegal da soja transgênica da Argentina no Rio Grande do Sul. "Não temos notícia de nenhuma punição de governos por essas situações", disse Gabriela Couto, da campanha de engenharia genética do Greenpeace.
(Folha Online, 14/03/06)
http://www1.folha.uol.com.br/folha/ciencia/ult306u14352.shtml